Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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pedagógica, vinculada ao escolanovismo e i<strong>de</strong>ntificada com o pensamento marxista<br />
e nietzschiano. Os leitores <strong>de</strong>ssas obras, porém, ignorando essa heterogeneida<strong>de</strong>,<br />
não raro atribu<strong>em</strong> todas as idéias presentes no texto apenas ao próprio Rub<strong>em</strong><br />
Alves, construindo uma imag<strong>em</strong> do autor como uma espécie <strong>de</strong> sábio, cujas<br />
palavras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser atentamente consi<strong>de</strong>radas.<br />
154<br />
Efeito s<strong>em</strong>elhante provoca no leitor a presença da heterogeneida<strong>de</strong><br />
mostrada marcada ou não-marcada, principal estratégia <strong>em</strong>pregada pelo autor <strong>em</strong><br />
sua construção discursiva, tanto sob forma <strong>de</strong> citações como <strong>de</strong> referências à voz do<br />
outro. Em ambos os casos <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong>, a voz do outro funciona como<br />
referendo e sustentação das afirmativas enunciadas pelo autor.<br />
No entendimento <strong>de</strong> que firmar um discurso <strong>em</strong> outros é característica <strong>de</strong><br />
toda construção discursiva, que se orienta dialogicamente sobre o discurso <strong>de</strong><br />
outr<strong>em</strong>, numa interação dinâmica e tensa (BAKHTIN, 2002c), compreen<strong>de</strong>mos ainda<br />
que o discurso do outro funciona como uma ponte, exercendo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transpor<br />
idéias e pensamentos, o que também é inerente à condição do pensamento<br />
humano, visto que, conforme aparece <strong>em</strong> uma das citações <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves, “não<br />
mais num universo físico, o hom<strong>em</strong> vive num universo simbólico... O hom<strong>em</strong> não<br />
po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>frontar com a realida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> intermediários; ele não po<strong>de</strong> vê-la... face a<br />
face” (CASSIRER, apud ALVES, 1995a, p. 67).<br />
Entretanto, é possível utilizar-se <strong>de</strong> alguma ação criadora para dizer o já<br />
dito. E a ação criadora <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves, que reorganiza e refaz a voz do outro<br />
dando sentidos outros ao já dito, é realizada mediante o uso <strong>de</strong> uma gama<br />
expressiva e variada <strong>de</strong> recursos modalizadores, indicando uma carga <strong>de</strong><br />
intencionalida<strong>de</strong> do autor, que escolhe as formas <strong>de</strong> modalização da voz do outro,<br />
<strong>de</strong> acordo com a conveniência daquilo que <strong>de</strong>seja dizer. Assim, o entorno das<br />
citações faz com que o novo discurso seja a<strong>de</strong>quado à divulgação das concepções<br />
filosófico-pedagógicas <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves. Constatamos, <strong>em</strong> suas próprias palavras, a<br />
consciência <strong>de</strong> que todo discurso se constrói por meio <strong>de</strong> um processo modalizador,<br />
já que,<br />
Na verda<strong>de</strong> não diz<strong>em</strong>os o que diz<strong>em</strong>os. O significado do discurso não é a<br />
mensag<strong>em</strong> conscient<strong>em</strong>ente enunciada. Todo discurso, entretanto, é dito <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>terminada forma. Ele é regido por um como --- que não é dito, que<br />
está nas entrelinhas, no phatos... É justamente aqui, ao nível do não<br />
articulado, que se encontra o sentido do discurso. (ALVES, 1995a, p. 57)