Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Essa possibilida<strong>de</strong> do uso da citação, que indica uma intenção do locutor<br />
<strong>em</strong> isentar-se <strong>em</strong> relação ao conteúdo citado, é reconhecida por meio da ocorrência<br />
<strong>de</strong> marcas indicativas <strong>de</strong> que aquelas palavras não são do locutor e sim <strong>de</strong> outro.<br />
Maingueneau também recorre a uma afirmativa <strong>de</strong> Kerbrat-Orecchioni,<br />
que sustenta outra idéia pertinente à citação, a <strong>de</strong> dizer algo que se pensa, porém<br />
se ocultando, e nos põe que “ocultar-se por trás <strong>de</strong> um terceiro ‘é freqüent<strong>em</strong>ente<br />
uma maneira hábil por ser indireta’ <strong>de</strong> sugerir o que se pensa, s<strong>em</strong> necessitar<br />
responsabilizar-se por isto“ (KERBRAT-ORECCHIONI apud MAINGUENEAU, 1997,<br />
p. 86).<br />
Nesse contexto, aparece toda ambigüida<strong>de</strong> a que Maingueneau se refere,<br />
pois “o locutor citado aparece, ao mesmo t<strong>em</strong>po, como o não-eu, <strong>em</strong> relação ao qual<br />
o locutor se <strong>de</strong>limita, e como a ‘autorida<strong>de</strong>’ que protege a asserção. Po<strong>de</strong>-se dizer<br />
que ‘o que enuncio é verda<strong>de</strong> por que não sou eu que o digo’, ou o contrário“<br />
(MAINGUENEAU, 1997, p. 86). T<strong>em</strong>os então uma abertura para uma ou outra<br />
interpretação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> outras instâncias enunciativas, principalmente<br />
aquelas que compõ<strong>em</strong> o entorno, para que se direcione para esta ou aquela filiação<br />
interpretativa.<br />
Consi<strong>de</strong>rando os recursos discursivos a que um locutor po<strong>de</strong> ter acesso,<br />
uma produção discursiva que faz uso das citações mostradas po<strong>de</strong> se justificar e se<br />
explicar por meio <strong>de</strong> diversos fatores: referendo ao discurso produzido, forma<br />
estilística <strong>de</strong> compor uma enunciação, difusão <strong>de</strong> uma idéia, teoria ou um referencial<br />
teórico, reforço <strong>de</strong> uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> erudito.<br />
Diante das consi<strong>de</strong>rações explicitadas, caminhamos para o entendimento<br />
<strong>de</strong> que as funções <strong>de</strong> uma citação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> aspectos como o seu entorno, o<br />
locutor, o alocutário, o contexto enunciativo, a subjetivida<strong>de</strong>, a intencionalida<strong>de</strong> e o<br />
estilo. Nos tópicos subseqüentes, abordar<strong>em</strong>os algumas <strong>de</strong>ssas funções, que se<br />
reflet<strong>em</strong> no corpus a ser analisado.<br />
2.3.1. A Citação e suas funções<br />
Sab<strong>em</strong>os que as citações <strong>em</strong> um texto po<strong>de</strong>m exercer diferentes funções,<br />
<strong>de</strong> acordo com o entorno do processo <strong>de</strong> produção do discurso <strong>em</strong> questão, sendo<br />
mais apropriado falar-se <strong>de</strong> uma polivalência nas funções da citação.<br />
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