Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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pois o exterior, o interdiscurso regula o funcionamento da produção do discurso,<br />
sendo estes instrumentos ignorados pelo sujeito que, numa ilusão, acredita ser a<br />
fonte <strong>de</strong> seu discurso, quando ele nada mais é do que o suporte, o efeito.<br />
Para melhor entendimento, abordar<strong>em</strong>os cada uma das formas básicas<br />
<strong>de</strong> manifestação da heterogeneida<strong>de</strong> enunciativa nos dois tópicos que segu<strong>em</strong>:<br />
heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva e heterogeneida<strong>de</strong> mostrada.<br />
2.2.2. Heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva<br />
Authier-Revuz (1982; 1990) fundamenta a heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva<br />
do sujeito e do seu discurso na noção <strong>de</strong> dialogismo <strong>de</strong> Bakhtin e na concepção<br />
psicanalítica do sujeito e <strong>de</strong> sua relação com a linguag<strong>em</strong>, proveniente <strong>de</strong> Freud e<br />
firmada na releitura <strong>de</strong>ste por Lacan.<br />
Encontramos duas orientações, postas por Bakhtin (2002a, p. 144-154),<br />
para caracterizar o discurso relatado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um discurso, as quais direcionam a<br />
dinâmica da inter-relação entre o discurso narrado e o discurso citado. Bakhtin<br />
mostra que o discurso po<strong>de</strong> apresentar uma estratégia <strong>de</strong> utilizar-se <strong>de</strong> discursos já<br />
proferidos, do discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> que isso seja registrado ou <strong>de</strong>monstrado.<br />
A língua elabora meios mais sutis e mais versáteis para permitir ao autor<br />
infiltrar suas réplicas e seus comentários no discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>. O contexto<br />
narrativo esforça-se por <strong>de</strong>sfazer a estrutura compacta e fechada do<br />
discurso citado, por absorvê-lo e apagar as suas fronteiras (BAKHTIN,<br />
2002a, p. 150).<br />
Esta orientação é chamada <strong>de</strong> estilo pictórico, sendo sua tendência<br />
manter um processo <strong>de</strong> atenuação dos contornos exteriores do discurso do outro,<br />
incorporando-o como se pertencesse originalmente a sua enunciação. É uma<br />
presença velada da fala do outro no discurso que se enuncia, criando a ilusão <strong>de</strong><br />
que o sujeito é a orig<strong>em</strong> do seu enunciado, com raízes no inconsciente, que Authier-<br />
Revuz <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva.<br />
Authier-Revuz (1990) l<strong>em</strong>bra a afirmação <strong>de</strong> Freud <strong>de</strong> que a “ilusão do<br />
eu“ propicia ao sujeito uma ilusão <strong>de</strong> que o seu discurso t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> centrada <strong>em</strong> si<br />
mesmo e que é a fonte da sua enunciação, pois “nesta afirmação <strong>de</strong> que,<br />
constitutivamente, no sujeito e no seu discurso está o Outro, reencontram-se as<br />
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