Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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- todo dizer não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se orientar para o “já dito“: todo<br />
enunciado é uma réplica, filiando-se a formações discursivas<br />
anteriores; 17<br />
- todo dizer é orientado para a resposta: o enunciado espera<br />
continuamente uma réplica, presumindo-se s<strong>em</strong>pre um auditório<br />
social 18 ;<br />
- todo dizer é internamente dialogizado: é heterogêneo, é uma<br />
articulação <strong>de</strong> múltiplas vozes sociais. 19<br />
Dessa forma, t<strong>em</strong>os os enunciados correlacionando-se com o “já dito“, e<br />
provocando respostas diversas, que po<strong>de</strong>m concordar, discordar, revalorizar,<br />
dissonar, aplaudir, criticar etc, não havendo limites para o dialogismo, sendo este<br />
aspecto, consi<strong>de</strong>rado por Bakhtin, próprio da linguag<strong>em</strong>. Po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a<br />
mobilida<strong>de</strong> do universo lingüístico-social é como se fosse um gran<strong>de</strong> diálogo, pois<br />
está s<strong>em</strong>pre respon<strong>de</strong>ndo ao enunciado, e que o plurilingüismo dialogizado é o<br />
ambiente <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> todo enunciado.<br />
Analisando a questão do diálogo, no pensamento bakhtiniano, Beth Brait<br />
(2003) consi<strong>de</strong>ra que as inter-relações discursivas perpassam a historicida<strong>de</strong> e a<br />
m<strong>em</strong>ória para que um enunciado produza sentido, e afirma que<br />
... seja qual for o lugar assumido para olhar o pensamento bakhtiniano, a<br />
idéia do diálogo, enquanto estrutura enunciativa e enquanto forma dialógica<br />
constitutiva da existência das ativida<strong>de</strong>s da linguag<strong>em</strong>, atravessa o campo<br />
<strong>de</strong> visão e <strong>de</strong>sdobra as possibilida<strong>de</strong>s do ver, incluindo incessant<strong>em</strong>ente a<br />
história e a m<strong>em</strong>ória na cena <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos e <strong>de</strong> seus efeitos<br />
(BRAIT, 2003, p. 29).<br />
Apesar <strong>de</strong> sua ênfase ao aspecto social da linguag<strong>em</strong>, Bakhtin não<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra o aspecto formal <strong>de</strong> sua constituição; no entanto, <strong>de</strong>ixa claro que a<br />
manifestação viva da língua só se faz presente por meio <strong>de</strong> um processo dialógico,<br />
pois, para esse filósofo da linguag<strong>em</strong>,<br />
17 A idéia <strong>de</strong> um discurso adâmico é refutada pela dialogicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bakhtin. Essa concepção<br />
discursiva é resgatada nos estudos <strong>de</strong> Authier-Revuz sobre a heterogeneida<strong>de</strong> enunciativa.<br />
18 Refere-se ao receptor <strong>em</strong>pírico entendido <strong>em</strong> sua heterogeneida<strong>de</strong> verboaxiológica. Ver BAKHTIN.<br />
Mikhail. Marxismo e filosofia da linguag<strong>em</strong>. 10. ed. São Paulo: Hucitec: Annablume, 2002a. p. 112-<br />
113.<br />
19 Este aspecto da dialogicida<strong>de</strong> encontra-se imbuído no conceito <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> enunciativa,<br />
postulado por Authier-Revuz.<br />
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