Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Na segunda idéia posta por Bakhtin, a <strong>de</strong> que o discurso também se<br />
constitui na interação com o seu interlocutor, v<strong>em</strong>os que o locutor instaura um<br />
diálogo com o discurso do alocutário, visto que este não é apenas um receptor, mas<br />
é um el<strong>em</strong>ento ativo <strong>de</strong> interação, que pressupõe uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um<br />
contradiscurso. Isso porque, “ao se constituir na atmosfera do ‘já dito’, o discurso é<br />
orientado ao mesmo t<strong>em</strong>po para o discurso resposta que ainda não foi dito, discurso,<br />
porém, que foi solicitado a surgir e que já era esperado“ (BAKHTIN, 2002c, p. 89).<br />
Constatamos que o duplo dialogismo, a que Authier-Revuz se refere,<br />
manifesta-se pela interação entre interlocutores <strong>de</strong> um discurso, e na<br />
intertextualida<strong>de</strong> que existe na constituição do discurso, ou seja, na<br />
interdiscursivida<strong>de</strong>.<br />
Escolher cada palavra, <strong>de</strong>ntre muitas possíveis, para produzir um<br />
enunciado, mostra que o sujeito nunca está isento <strong>de</strong> uma subjetivida<strong>de</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>rando que “nenhuma palavra é ‘neutra’, mas inevitavelmente ‘carregada’,<br />
‘ocupada’, ‘habitada’, ‘atravessada’ pelos discursos nos quais ‘viveu sua existência<br />
socialmente sustentada’“ (AUTHIER-REVUZ, 1990, p. 27).<br />
Quanto à interação entre locutor e alocutário, e aos sentidos que uma<br />
palavra po<strong>de</strong> comportar, Bakhtin (2002a, p. 113) comenta que<br />
... toda palavra comporta duas faces. Ela é <strong>de</strong>terminada tanto pelo fato <strong>de</strong><br />
que proce<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém, como pelo fato <strong>de</strong> que se dirige para alguém. Ela<br />
constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda<br />
palavra serve <strong>de</strong> expressão a um <strong>em</strong> relação ao outro. Através da palavra<br />
<strong>de</strong>fino-me <strong>em</strong> relação ao outro, isto é, <strong>em</strong> última análise, <strong>em</strong> relação à<br />
coletivida<strong>de</strong>. A palavra é uma espécie <strong>de</strong> ponte lançada entre mim e os<br />
outros. Se ela se apóia sobre mim numa extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>, na outra apóia-se<br />
sobre meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do<br />
interlocutor.<br />
A consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que o exterior s<strong>em</strong>pre se faz presente na produção <strong>de</strong><br />
um enunciado é uma concepção recorrente aos estudos sobre a linguag<strong>em</strong> do<br />
Círculo <strong>de</strong> Bakhtin. Por mais que se busque <strong>de</strong>limitar um campo autônomo nos<br />
estudos lingüísticos, quando se consi<strong>de</strong>ra o discurso e seu processo enunciativo “o<br />
exterior inevitavelmente retorna implicitamente ao interior da <strong>de</strong>scrição e isto sobre a<br />
forma ‘natural’ <strong>de</strong> reprodução, na análise das evidências vivenciadas pelos sujeitos<br />
falantes quanto a sua ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>“ (AUTHIER-REVUZ, 1990, p. 25).<br />
Authier-Revuz (1990, p. 27) ressalta que a presença do interdiscurso na<br />
produção do discurso é a essência da constituição da heterogeneida<strong>de</strong> enunciativa,<br />
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