Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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na indicação <strong>de</strong> que um outro locutor está com a palavra, ou seja, uma outra voz<br />
está falando. No entanto, essa indicação não consegue reproduzir a mesma<br />
contextualida<strong>de</strong> do discurso original, e assim, por meio dos verbos <strong>de</strong>locutivos, o<br />
locutor citante po<strong>de</strong> utilizar um posicionamento que vise a uma maior neutralida<strong>de</strong><br />
diante do discurso citado, ou que <strong>de</strong>clare ou transpareça algum juízo <strong>de</strong> valor ou<br />
insinuação <strong>de</strong> juízo <strong>de</strong> valor.<br />
Para Abreu (1999) 26 os <strong>de</strong>locutivos falar e afirmar são neutros, ao<br />
contrário <strong>de</strong> verbos como enfatizar, advertir, pon<strong>de</strong>rar, confi<strong>de</strong>nciar, <strong>de</strong>ntre outros. O<br />
autor enfatiza que esses verbos introdutores <strong>de</strong> vozes po<strong>de</strong>m ser usados por<br />
locutores <strong>de</strong> modo a manipular a voz do discurso citado, consi<strong>de</strong>rando o<br />
posicionamento do locutor e a carga s<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> que cada um <strong>de</strong>sses verbos são<br />
portadores.<br />
O Manual Geral da Redação da Folha <strong>de</strong> São Paulo (1987) postula que<br />
os verbos <strong>de</strong>clarativos não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> qualificar a <strong>de</strong>claração a que se refer<strong>em</strong>, <strong>de</strong>vendo<br />
ser <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> qualquer juízo <strong>de</strong> valor. Portanto, verbos como admitir, confessar,<br />
reconhecer, l<strong>em</strong>brar, salientar, ressaltar como sinônimos <strong>de</strong> dizer, <strong>de</strong>clarar e afirmar<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser evitados como acompanhantes <strong>de</strong> uma citação, pois uma coisa é dizer<br />
algo; outra, diferente, é l<strong>em</strong>brar, salientar, ressaltar, revelar, anunciar ou confessar<br />
algo.<br />
Encontramos, na vasta literatura publicada, que os verbos <strong>de</strong>locutivos<br />
qualificam o discurso relatado, trazendo uma opinião do seu locutor, mesmo que<br />
seja <strong>de</strong> forma inconsciente. Para Charolles (1978), diversas conjecturas são postas<br />
por esses verbos, sendo os <strong>de</strong>locutivos, com exceção <strong>de</strong> dizer, que aparenta uma<br />
certa neutralida<strong>de</strong>, indicadores <strong>de</strong> uma posição do locutor diante do discurso<br />
relatado: or<strong>de</strong>nar, mandar, suplicar, pedir indicam hierarquia; revelar pressupõe<br />
tornar conhecido algo que ainda não fora dito; repetir, concluir, <strong>de</strong>duzir <strong>de</strong>notam uma<br />
posição t<strong>em</strong>poral posterior a algum dito; reconhecer e confessar implicam o<br />
reconhecimento do ponto <strong>de</strong> visto do locutor.<br />
Alguns verbos tais como: garantir, salientar, frisar, prometer, atestar,<br />
ressaltar, anunciar dão uma conotação positiva à citação; enquanto outros, como<br />
admitir, reconhecer, confessar, assumir, expressam uma conotação negativa. Outros<br />
verbos caracterizam, especificamente, a forma ou o tom <strong>em</strong> que se dá a fala, como<br />
26 Ver o capítulo Polifonia e intertextualida<strong>de</strong> in ABREU, Antônio Suárez. Curso <strong>de</strong> redação. 9. ed.<br />
São Paulo: Ática, 1999. p. 45-50.<br />
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