INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
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Estad<strong>os</strong>. O princípio básico do Movimento é de que <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> sem-terra é<br />
que devem-se organizar para poderem conquistar a terra. [...] O Movimento<br />
passou a se caracterizar como <strong>um</strong>a articulação nacional, basicamente a partir<br />
do Primeiro Congresso Nacional realizado em Curitiba (janeiro de 1985),<br />
embora as articulações regionais já vinham desde 1983. E atualmente quinze<br />
Estad<strong>os</strong> estão organizando <strong>os</strong> trabalhadores sem-terra, na base, e estão<br />
articulad<strong>os</strong> Durante estes an<strong>os</strong> tod<strong>os</strong>, as principais formas de pressão e de<br />
luta variaram de acordo com as realidades locais e regionais, mas <strong>os</strong><br />
trabalhadores rurais experimentaram, desde fazer cartas às autoridades<br />
estaduais e federais e audiências, até passeatas, concentrações, “Romarias da<br />
Terra”, culminando com o último recurso da luta, que tem sido <strong>os</strong><br />
acampament<strong>os</strong> nas beiras de estradas e fazendas e as ocupações de terras<br />
improdutivas. Nesse período já foram conquistadas mais de oitenta fazendas,<br />
que ultrapassam a 150 mil hectares, n<strong>os</strong> doze Estad<strong>os</strong> onde o movimento<br />
está organizado há mais tempo. E existem atualmente cerca de sessenta e três<br />
acampament<strong>os</strong> de sem-terra, em seis Estad<strong>os</strong>, que reúnem mais de 15 mil<br />
famílias, as quais apesar de todo sofrimento e penúria, resistem a todo tipo<br />
de provocação e repressão, por parte d<strong>os</strong> latifundiári<strong>os</strong> e d<strong>os</strong> govern<strong>os</strong><br />
estaduais, n<strong>um</strong>a última forma desesperadora de exigir que o governo c<strong>um</strong>pra<br />
com a legislação, c<strong>um</strong>pra com suas promessas demagógicas, feitas no Plano<br />
Nacional de Reforma Agrária, de assentar durante 1986 a 150 mil famílias,<br />
sendo que atualmente conseguiu assentar provisoriamente a apenas 5 mil<br />
famílias. [...] Desta forma esperam<strong>os</strong> contribuir para conscientizar e<br />
organizar o maior número p<strong>os</strong>sível de trabalhadores sem terra, e,<br />
organizad<strong>os</strong>, lutar pela realização de <strong>um</strong>a ampla Reforma Agrária, que<br />
represente justiça social no campo e, <strong>sobre</strong>tudo, soluções para muit<strong>os</strong><br />
problemas de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> trabalhadores brasileir<strong>os</strong>, como a fome, o<br />
desemprego, o êxodo rural e a marginalidade. E para isso dizem<strong>os</strong>: “Terra<br />
não se ganha, se conquista!” [grifo no original] 180<br />
O doc<strong>um</strong>ento supracitado demonstra como, no período da Constituinte, o MST estava<br />
adquirindo <strong>um</strong>a maior força organizacional e se expandindo pelo País, envolvendo <strong>um</strong><br />
número cada vez maior de pessoas. A noção de que <strong>os</strong> Sem-Terra “resistem” e a defesa de<br />
que “terra não se ganha, se conquista” – ambas presentes na passagem acima – contribuíram,<br />
certamente, para a rejeição da noção de direito de resistência, bem como para a sua vinculação<br />
à idéia de luta, em especial à luta pela terra.<br />
A partir da totalidade do discurso proferido em audiência pública por Cândido<br />
Mendes, não é p<strong>os</strong>sível fazerm<strong>os</strong> <strong>um</strong>a análise de sua manifestação <strong>sobre</strong> o tema específico do<br />
direito de resistência. Dessa forma, procurarem<strong>os</strong> compreender alg<strong>um</strong>as questões levantadas<br />
180 Doc<strong>um</strong>ento da Secretaria Nacional do MST - Movimento d<strong>os</strong> Trabalhadores Rurais Sem-Terra, intitulado “O<br />
que é o Movimento d<strong>os</strong> Trabalhadores Rurais Sem-Terra?”. Cf. CENTRO ECUMÊNICO DE<br />
DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO. D<strong>os</strong>siê Constituinte II. As grandes questões nacionais e as<br />
prop<strong>os</strong>tas populares. São Paulo: CEDI, 1987, p. 95.<br />
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