INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Não fazem parte da cultura cívica brasileira o grande protesto público, a<br />
penetração da greve, a vigilância <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> mandat<strong>os</strong> populares, o vigor da<br />
reação ao abuso quotidiano em que o Estado se impõe à sociedade e a<br />
burocracia à maquina pública. Não está na vinheta do n<strong>os</strong>so passado este<br />
perfil clássico das sociedades democráticas, à flor da sua vida urbana: o<br />
protesto nas calçadas norte-americanas contra o abuso das lojas, de<br />
preço ou de lesão de qualidade, ou contra a dispensa injusta de<br />
empregad<strong>os</strong>. Toda esta resistência, artesanal e imediata nas suas faixas,<br />
assobi<strong>os</strong> e megafones, planta na rua a pronta reação da cidadania ao que vê<br />
como agravo a seus direit<strong>os</strong>. É de agora o n<strong>os</strong>so mesmo acordar, do piquete<br />
tímido à grande praça das “diretas já” manifestando a reivindicação coletiva<br />
e imediata, por <strong>sobre</strong> todo o interesse polarizado. E tal reivindicação se<br />
estende da defesa do cons<strong>um</strong>idor à do meio ambiente e da paisagem natural<br />
ou histórica. Mas, para chegar a esse nível de refinamento e combatividade<br />
públic<strong>os</strong>, há que atentar, de saída, a como estam<strong>os</strong> ainda nas precondições<br />
para tal desempenho. [grif<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong>] (MENDES, 1986, pp. X)<br />
A partir da passagem acima, e correlacionando-a com o discurso proferido pelo<br />
professor na Constituinte, podem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> indagar se a “resistência” que Cândido Mendes<br />
defende em seu livro seria apenas aquela que beneficiaria <strong>os</strong> cons<strong>um</strong>idores lesad<strong>os</strong>. Ou seja,<br />
<strong>um</strong>a resistência que só poderia ser exercida pel<strong>os</strong> p<strong>os</strong>suidores, e não pel<strong>os</strong> desp<strong>os</strong>suíd<strong>os</strong>.<br />
Cândido Mendes (1986, p. X) ainda observa que “mantemo-n<strong>os</strong> pres<strong>os</strong> a este círculo<br />
de giz imaginário, de que é preciso regulamentar primeiro para exigir depois”. Nesta<br />
declaração, parece que Mendes concorda com a luta por direit<strong>os</strong> ainda não institucionalizad<strong>os</strong>.<br />
Continua-se a temer a reunião em praça pública. Ao mesmo tempo, não<br />
se dá a devida amplitude ao direito de greve, reconhecendo-se o seu<br />
exercício como auto-responsabilidade já de verdadeiras classes sociais<br />
emergentes no país. A Constituição guarda ainda a cautela obsoleta de<br />
que o povo só se p<strong>os</strong>sa reunir “sem armas”. Não passou ao texto ainda o<br />
peso da presença popular gigantesca de 1984, municiada nas praças tão-só<br />
do espetáculo da mobilização ordeira e disciplinada. [grif<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong>]<br />
(MENDES, 1986, p. XI).<br />
Na passagem acima Mendes ironiza o “medo” em relação às reuniões em praça<br />
pública. A ironia se estende, inclusive, à norma constitucional que dispõe no sentido de que<br />
somente é p<strong>os</strong>sível a reunião pacífica, “sem armas”. Ora, as declarações acima são totalmente<br />
190