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INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF

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pela anistia no ano seguinte. Trabalhou como professor de História 87 no colégio Equipe e,<br />

anistiado em 1979, Genoino ajudou a fundar o Partido d<strong>os</strong> Trabalhadores 88 , que estava sendo<br />

formado n<strong>os</strong> sindicat<strong>os</strong> do ABC. 89<br />

Em 1981, rompeu com o PC do B, que ainda se encontrava na ilegalidade, filiando-se<br />

ao PT 90 . Todavia, manteve sua ligação com o Partido Revolucionário Comunista (PRC),<br />

memória, como o sofrimento e a exploração a que estam<strong>os</strong> submetid<strong>os</strong>. Isso é <strong>um</strong>a das razões que me impulsionam<br />

a continuar na luta para acabar com a opressão do n<strong>os</strong>so povo’”. Da tortura à liberdade. Reportagem feita<br />

pela jornalista Cecília Maia para a Revista Isto é Gente. 11 de ag<strong>os</strong>to de 2003.<br />

Disponível em: http://www.genoino.org/trajetoria_ver.php?idTrajetoria=730<br />

86 Segue trecho de Artigo publicado no Jornal O Globo do dia 26 de setembro de 2003, pela socióloga Maria<br />

Francisca Pinheiro Coelho, intitulado A guerrilha do Araguaia: dores e direit<strong>os</strong>: “A história da guerrilha está<br />

sendo contada em partes e, até agora, apenas <strong>um</strong> d<strong>os</strong> lad<strong>os</strong> falou: o que sofreu a repressão. D<strong>os</strong> 69 militantes do<br />

PCdoB que integravam a guerrilha no início da luta, em 1972, 61 são desaparecid<strong>os</strong>. Na série de reportagens, o<br />

“Correio” divulgou depoiment<strong>os</strong> da prisão de cinco <strong>sobre</strong>viventes, entre <strong>os</strong> quais J<strong>os</strong>é Genoino, ex-deputado federal<br />

e atual presidente do Partido d<strong>os</strong> Trabalhadores. No caso desses depoiment<strong>os</strong>, vale <strong>um</strong> reparo. As folhas às<br />

quais o jornal teve acesso, cópias, fazem parte de long<strong>os</strong> e complex<strong>os</strong> process<strong>os</strong> que estão arquivad<strong>os</strong> no Superior<br />

Tribunal Militar. São doc<strong>um</strong>ent<strong>os</strong> secret<strong>os</strong>, vedad<strong>os</strong> ao público, mas não a<strong>os</strong> pres<strong>os</strong> e seus advogad<strong>os</strong> que podem<br />

requerê-l<strong>os</strong> na Justiça. J<strong>os</strong>é Genoino foi condenado à pena máxima de cinco an<strong>os</strong>, juntamente com outr<strong>os</strong><br />

10 militantes do PCdoB, por pertencer a <strong>um</strong>a organização clandestina. Eles não foram julgad<strong>os</strong> como guerrilheir<strong>os</strong>,<br />

pois <strong>os</strong> militares resolveram desconhecer oficialmente o fato, com receio de que houvesse propagação. A<br />

censura proibia a imprensa de divulgar qualquer notícia <strong>sobre</strong> o Araguaia. Esse processo contra o PCdoB envolveu<br />

40 réus, conforme registro d<strong>os</strong> aut<strong>os</strong> de 10.513 folhas em 28 vol<strong>um</strong>es. Sem a prévia compreensão de como<br />

eram montad<strong>os</strong> <strong>os</strong> interrogatóri<strong>os</strong> nem a revelação do conjunto d<strong>os</strong> depoiment<strong>os</strong>, a história d<strong>os</strong> porões da ditadura<br />

é conhecida parcialmente. Os process<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> dividiam-se em duas fases: a fase policial — do inquérito<br />

policial militar — e a fase judicial, da ação penal. Os cas<strong>os</strong> de mortes e desapareciment<strong>os</strong> ocorriam sempre na<br />

primeira fase, quando não havia ainda registro de prisão e <strong>os</strong> detid<strong>os</strong> eram interrogad<strong>os</strong> sob tortura. As informações<br />

obtidas nesse momento compunham as peças judiciais da segunda fase e não passavam de <strong>um</strong>a compilação<br />

arbitrária de falas extraídas nas inúmeras sessões de tortura. Concluída essa fase, que para Genoino demorou 11<br />

meses, d<strong>os</strong> quais nove incomunicável, apresentava-se ao preso esses depoiment<strong>os</strong> para que ele <strong>os</strong> assinasse. Se<br />

recusasse, voltava para o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de<br />

Defesa Interna), a Câmara de Interrogatório considerada o exemplo do terror na época. As chances eram duas:<br />

voltar para a tortura ou ter a prisão legalizada, o que significava deixar de ser <strong>um</strong> pária, <strong>um</strong>a pessoa sem direit<strong>os</strong>,<br />

e passar a ter direito a julgamento. Mesmo com a parcialidade da Justiça Militar, tribunais onde eram julgad<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

pres<strong>os</strong> polític<strong>os</strong>, o registro de prisão significava <strong>um</strong> atestado de vida. Eles aproveitavam o interrogatório na Auditoria<br />

Militar para denunciar as torturas. Mas a maioria calou com medo de retornar às sessões de tortura e de se<br />

prejudicar no julgamento. De acordo com <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> do livro ‘Tortura nunca mais’, entre abril de 1964 e março de<br />

1979, de 7.367 pres<strong>os</strong> interrogad<strong>os</strong> em 707 process<strong>os</strong> do Superior Tribunal Militar contra grup<strong>os</strong> de esquerda somente<br />

1.843, o que equivale a 25%, acusaram alg<strong>um</strong> agente de tortura. J<strong>os</strong>é Genoino foi <strong>um</strong> deles. Em seu interrogatório<br />

na Auditoria Militar, negou <strong>os</strong> depoiment<strong>os</strong> anteriores, dizendo ter sido coagido e que por isso não tinham<br />

valor de provas, “pois foram obtid<strong>os</strong> mediante a coação física, moral e psíquica”. No seu julgamento apresentou<br />

<strong>um</strong>a carta-defesa, na qual relatou as torturas, ass<strong>um</strong>iu a guerrilha e a tornou pública, já que <strong>os</strong> militares<br />

ocultavam o fato. Pela sua p<strong>os</strong>tura, ele foi considerado n<strong>os</strong> aut<strong>os</strong> ‘réu perig<strong>os</strong>o e não arrependido’ e sua carta-defesa<br />

chamada ‘carta-confissão’. [...] Mesmo a guerra tem suas leis, apesar das práticas contrárias, como ocorreu<br />

no Araguaia, chamada de ‘guerra suja’ pel<strong>os</strong> militares para justificar at<strong>os</strong> de extermínio. Pelas leis, <strong>os</strong> ferid<strong>os</strong> devem<br />

ser socorrid<strong>os</strong> e <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> d<strong>os</strong> adversári<strong>os</strong> mort<strong>os</strong> identificad<strong>os</strong> e recolhid<strong>os</strong>. Nada disso foi feito no Araguaia.<br />

Conhecer a verdade <strong>sobre</strong> a guerrilha hoje faz parte do compromisso da sociedade com a construção da<br />

democracia.” Disponível em: http://www.genoino.org/trajetoria_ver.php?idTrajetoria=5<br />

87 P<strong>os</strong>sui curso superior de Fil<strong>os</strong>ofia incompleto.<br />

88 Filiou-se ao Partido em 1980.<br />

89 “Paralelamente, voltava à militância política. Ajudou na reconstrução da União Nacional d<strong>os</strong> Estudantes<br />

(UNE), participou d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> pela anistia e n<strong>os</strong> de apoio às primeiras greves d<strong>os</strong> metalúrgic<strong>os</strong>, quando<br />

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