INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
interpretação das regras, de negociação. A meu ver a biografia é por isso<br />
mesmo o campo ideal para verificar o caráter intersticial – e, todavia,<br />
importante – da liberdade de que dispõem <strong>os</strong> agentes e para observar como<br />
funcionam concretamente <strong>os</strong> sistemas normativ<strong>os</strong>, que jamais estão isent<strong>os</strong><br />
de contradições. [...] Há <strong>um</strong>a relação permanente e recíproca entre biografia<br />
e contexto: a mudança é precisamente a soma infinita dessas inter-relações.<br />
[...] Talvez seja apenas <strong>um</strong>a nuança, mas me parece que não se pode analisar<br />
a mudança social sem que se reconheça previamente a existência irredutível<br />
de <strong>um</strong>a liberdade vis-à-vis as formas rígidas e as origens da reprodução das<br />
estruturas de dominação. (LEVI, 1998, pp. 179-180)<br />
Também Pierre Bourdieu, em artigo intitulado A ilusão biográfica, aponta as<br />
dificuldades de se contar <strong>um</strong>a “história de vida”.<br />
Produzir <strong>um</strong>a história de vida, tratar a vida como <strong>um</strong>a história, isto é, como o<br />
relato coerente de <strong>um</strong>a seqüência de aconteciment<strong>os</strong> com significado e<br />
direção, talvez seja conformar-se com <strong>um</strong>a ilusão retórica, <strong>um</strong>a<br />
representação com<strong>um</strong> da existência que toda <strong>um</strong>a tradição literária não<br />
deixou e não deixa de reforçar. (BOURDIEU, 1998, p. 185)<br />
Bourdieu (1998, p. 189) enfatiza a importância do espaço social para a reconstrução da<br />
história de vida de <strong>um</strong> indivíduo. Neste sentido, o autor define a noção de trajetória como<br />
“série de p<strong>os</strong>ições sucessivamente ocupadas por <strong>um</strong> mesmo agente (ou <strong>um</strong> mesmo grupo)<br />
n<strong>um</strong> espaço que é ele próprio <strong>um</strong> devir, estando sujeito a incessantes transformações”. E<br />
acrescenta logo em seguida:<br />
Tentar compreender <strong>um</strong>a vida como <strong>um</strong>a série única e por si suficiente de<br />
aconteciment<strong>os</strong> sucessiv<strong>os</strong>, sem outro vínculo que não a associação a <strong>um</strong><br />
“sujeito” cuja constância certamente não é senão aquela de <strong>um</strong> nome<br />
próprio, é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de <strong>um</strong> trajeto no<br />
metrô sem levar em conta a estrutura da rede, isto é, a matriz das relações<br />
objetivas entre as diferentes estações. Os aconteciment<strong>os</strong> biográfic<strong>os</strong> se<br />
definem como colocações e deslocament<strong>os</strong> no espaço social, isto é, mais<br />
precisamente n<strong>os</strong> diferentes estad<strong>os</strong> sucessiv<strong>os</strong> da estrutura da distribuição<br />
das diferentes espécies de capital que estão em jogo no campo considerado.<br />
[...] O que equivale a dizer que não podem<strong>os</strong> compreender <strong>um</strong>a trajetória<br />
(isto é, o envelhecimento social que, embora o acompanhe de forma<br />
inevitável, é independente do envelhecimento biológico) sem que tenham<strong>os</strong><br />
previamente construído <strong>os</strong> estado sucessiv<strong>os</strong> do campo no qual ela se<br />
desenrolou e, logo, o conjunto das relações objetivas que uniram o agente<br />
considerado – pelo men<strong>os</strong> em certo número de estado pertinentes – ao<br />
conjunto d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> agentes envolvid<strong>os</strong> no mesmo campo e confrontad<strong>os</strong><br />
92