INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
campo hipotético, podendo servir somente de orientação para <strong>um</strong> futuro trabalho. Contudo,<br />
alguns doc<strong>um</strong>ent<strong>os</strong> e obras da década de 80 demonstram como este era <strong>um</strong> assunto crucial<br />
naquele momento.<br />
Em texto datado de 1986, ou seja, localizado em período imediatamente anterior ao de<br />
instalação da Assembléia Nacional Constituinte de 1987/1988, Marilena Chauí aborda o tema<br />
da luta pela terra, a partir de <strong>um</strong>a perspectiva de luta armada.<br />
Fala-se em luta armada no Brasil. Existe efetivamente <strong>um</strong>a luta armada,<br />
secreta, infindável, no Brasil: a luta pela terra, forçando <strong>os</strong> sem-terra, <strong>os</strong><br />
p<strong>os</strong>seir<strong>os</strong> e <strong>os</strong> bóias-frias a responder pelas armas ao ataque armado de<br />
latifundiári<strong>os</strong> que contratam mercenári<strong>os</strong> para tocaiar, torturar e assassinar<br />
lideranças rurais; famílias inteiras e a violação cotidiana d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong><br />
h<strong>um</strong>an<strong>os</strong> – fome, desemprego, mortalidade, analfabetismo, ausência de<br />
moradia, de assistência à saúde – e d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> civis – legislação trabalhista<br />
de estilo fascista, censura, Lei de Segurança Nacional, Justiça Militar, tortura<br />
de pres<strong>os</strong> comuns, encarceramento e tortura de crianças – violação que é<br />
expressão institucionalizada da luta de classes n<strong>um</strong>a sociedade autoritária<br />
como a brasileira. O mais grave é que essa luta armada, cuja iniciativa<br />
parte d<strong>os</strong> dominantes, é apresentada perante a opinião pública como<br />
iniciativa das classes populares, que são, assim, criminalizadas e<br />
estigmatizadas como violentas. A conseqüência dessa situação é dupla: por<br />
<strong>um</strong> lado, leva a supor que a política é esfera reservada à classe dominante<br />
para resolver seus conflit<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, excluindo dessa esfera as classes<br />
populares, destinadas ao puro uso da força; por outro lado, permite a<strong>os</strong><br />
dominantes definir <strong>os</strong> trabalhadores, em geral, e as classes populares, no seu<br />
todo, como imatur<strong>os</strong> incapazes de prática política, reduzindo-lhes a<br />
cidadania à representação indireta por meio de partid<strong>os</strong> polític<strong>os</strong><br />
clientelístic<strong>os</strong> ou populistas. [grif<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong>] (CHAUÍ, 1986, pp. 64-65).<br />
Na passagem acima podem<strong>os</strong> verificar que a luta pela terra é trabalhada sob a ótica da<br />
luta de classes, na qual estariam em op<strong>os</strong>ição a “classe dominante” e as “classes populares”.<br />
Em doc<strong>um</strong>ento já mencionado anteriormente, assinado em 10 de fevereiro de 1980<br />
pela Comissão Nacional Provisória do Movimento Pró-PT, foi sugerido pelo Partido <strong>um</strong><br />
“programa para a sociedade”, que foi dividido em seis partes intituladas da seguinte forma: a<br />
questão econômica, a questão do Estado, a questão nacional, a questão agrária, a questão<br />
social e a questão internacional. Podem<strong>os</strong> perceber que a questão agrária – tema que n<strong>os</strong><br />
interessa mais especificamente – já estava presente na pauta de discussão do Partido d<strong>os</strong><br />
194