INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
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Assim também a reconstituição d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> dinâmic<strong>os</strong> (negociações,<br />
transações, trocas, conflit<strong>os</strong> etc.) que desenham de maneira móvel, instável,<br />
as relações sociais, ao mesmo tempo em que recortam <strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> abert<strong>os</strong> às<br />
estratégias individuais. (CHARTIER, 1994, p. 102)<br />
Em entrevista concedida à Revista Topoi, o historiador Jacques Revel faz <strong>um</strong> relato<br />
bastante interessante <strong>acerca</strong> de sua aproximação com a micro-história, no final da década de<br />
70. Seu depoimento é muito ilustrativo no que diz respeito ao problema das escalas de<br />
observação.<br />
E finaliza:<br />
Foi o momento em que me aproximei da micro-história italiana, porque o<br />
que me interessava era ligar <strong>um</strong>a prática a <strong>um</strong>a situação, a <strong>um</strong> contexto de<br />
ação, a <strong>um</strong> mundo relacional. Mas o que, creio, n<strong>os</strong> era com<strong>um</strong>, era no fundo<br />
a redescoberta da ação e d<strong>os</strong> atores, do que em inglês chama-se agency, que<br />
pode dificilmente ser traduzido para o francês, e que liga o conjunto das<br />
ações, das disp<strong>os</strong>ições para a ação e <strong>um</strong>a experiência social particular. É<br />
nesse sentido que o projeto de <strong>um</strong>a história social assim redefinido passava,<br />
a partir daí, a fazer sentido para nós. [...] O que n<strong>os</strong> propunha a microhistória<br />
era men<strong>os</strong> <strong>um</strong>a fórmula alternativa – ainda que alguns a tenham<br />
concebido desta forma – do que <strong>um</strong>a oportunidade para refletir de maneira<br />
crítica <strong>sobre</strong> as práticas da história social. Em todo caso, foi assim que a<br />
recebi. [...] Porque, até então, a história social tinha sido essencialmente<br />
macro-social – ela o era, para dizer a verdade, sem saber e sem que isso<br />
f<strong>os</strong>se realmente questionado –, ela não havia realmente se interrogado <strong>sobre</strong><br />
as escalas de observação, a não ser do ponto de vista da representação<br />
estatística. [...] A concepção e, se quiserm<strong>os</strong>, a ap<strong>os</strong>ta d<strong>os</strong> microhistoriadores<br />
caminhava exatamente no sentido inverso. Eles partiam da<br />
idéia de que no nível micro não se vê model<strong>os</strong> reduzid<strong>os</strong> de realidades<br />
gerais, mas que pode-se, antes de mais nada, perceber agenciament<strong>os</strong><br />
particulares da realidade social. [...] Mas o que me parece mais importante<br />
do que essa alternativa é o princípio da variação da escala, ou seja, o<br />
inventário, forç<strong>os</strong>amente empírico, e a exploração d<strong>os</strong> níveis de organização<br />
do social entre o micro e o macro, o que n<strong>os</strong> permitirá o acesso à apreensão<br />
mais complexa das configurações sociais. (REVEL, 2001 apud DAHER,<br />
2001, pp. 209, 211-212, 214)<br />
A última inovação <strong>sobre</strong> a qual g<strong>os</strong>taria de insistir, e que é para mim a mais<br />
importante, é a redescoberta d<strong>os</strong> atores e da ação. Não se trata aqui de <strong>um</strong>a<br />
escolha fil<strong>os</strong>ófica, mas da tomada de consciência do que deveria ser<br />
evidente: assim como nós, <strong>os</strong> atores do passado foram permanentemente<br />
confrontad<strong>os</strong> com escolhas, colocad<strong>os</strong> com <strong>os</strong> seus recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> e<br />
também com as restrições que <strong>os</strong> atores sofriam, n<strong>um</strong> espaço<br />
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