INTRODUÇÃO Faremos um estudo sobre os debates acerca ... - UFF
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pode vacinar a Constituição contra o vício de ser <strong>um</strong> conjunto de promessas<br />
vãs, <strong>um</strong> jogo de palavras ocas. As conquistas populares fazem-se na luta<br />
concreta do povo; não se fazem em doc<strong>um</strong>ent<strong>os</strong> meramente formais. Elas se<br />
fazem nas ruas, n<strong>os</strong> sindicat<strong>os</strong>, nas organizações populares em geral, na<br />
ocupação social, por famílias carentes, de terras egoisticamente concentradas<br />
sem destinação útil, nas concentrações de lavradores sem terra, na luta d<strong>os</strong><br />
índi<strong>os</strong>, d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong> e das mulheres, nas comunidades eclesiais de base, onde o<br />
povo toma consciência de que o Reino de Deus deve começar neste mundo.<br />
A Constituinte será importante na medida em que se integre à luta concreta<br />
das grandes maiorias. [grifo n<strong>os</strong>so] (HERKENHOFF, 1986, pp. 51-52).<br />
A Comissão Provisória de Estud<strong>os</strong> Constitucionais, contudo, também tinha seus<br />
simpatizantes. Em Colóquio <strong>sobre</strong> a Constituinte, realizado na USP em maio de 1986, João<br />
Almino de Souza (1987, pp. 77-78) defendeu que a criação da Comissão apresentava<br />
vantagens <strong>sobre</strong> outras opções. Isso porque “ela reúne especialistas e profissionais de alto<br />
nível, intelectuais consistentes e séri<strong>os</strong> [...] que têm debatido abertamente as questões e têm<br />
estado atent<strong>os</strong> às sugestões da sociedade”. Por isso, <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> da CPEC seriam “preferíveis<br />
à alternativa de se ter <strong>um</strong> projeto redigido a poucas mã<strong>os</strong> dentro do Executivo, para ser<br />
lançado, sem grande preparação e sem prévia discussão, diretamente à Assembléia”. Mas<br />
Souza reconhecia que, “por melhor que seja o projeto e ainda que não se pudessem reunir<br />
melhores nomes para compor a Comissão, n<strong>os</strong> defrontam<strong>os</strong>, contudo, com o problema de que<br />
não há representatividade sem eleição”.<br />
A Comissão Afonso Arin<strong>os</strong> foi alvo de críticas de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong>. Entretanto, durante o<br />
período em que funcionou, a Comissão realizou várias audiências públicas e recebeu<br />
sugestões de entidades e cidadã<strong>os</strong>. Seus resultad<strong>os</strong>, porém, surpreenderam tanto o governo –<br />
que esperava <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento final conservador, que mantivesse o status quo, mas revestido de<br />
legitimidade – como <strong>os</strong> seus crític<strong>os</strong>, por ter resultado – diversamente do que no início era<br />
esperado – n<strong>um</strong>a prop<strong>os</strong>ta de Constituição com pont<strong>os</strong> bastante avançad<strong>os</strong>.<br />
Muit<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> do anteprojeto desagradaram o Executivo, em especial o sistema de<br />
governo parlamentarista e a definição do mandato presidencial em quatro an<strong>os</strong>, razão pela<br />
qual o texto final sequer foi enviado, como sugestão, ao Congresso Nacional.<br />
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