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Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra

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J. A. Segurado e Campos<br />

suce<strong>de</strong> que o orador induza <strong>de</strong>liberadamente o povo em<br />

erro, sobretudo se, em vez <strong>de</strong> orador, é antes um sicofanta<br />

assumido 283 ; outras vezes o orador proporciona ao seu<br />

auditório, por exemplo os juízes num tribunal, informações<br />

incompletas ou erradas, seja por incompetência, seja por<br />

ter cedido à corrupção, seja por qualquer outro motivo<br />

ainda 284 ; po<strong>de</strong> dar-se ainda o caso <strong>de</strong> o orador, mesmo<br />

que sem intenções <strong>de</strong>sonestas, <strong>de</strong>spertar nos seus ouvintes<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> objectivos in<strong>de</strong>sejáveis ou inconvenientes,<br />

como é apanágio dos <strong>de</strong>magogos 285 . A conclusão lógica<br />

a tirar <strong>de</strong>stes factos é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que exista uma<br />

perfeita i<strong>de</strong>ntificação dos valores que dão forma ao dêmos<br />

e aqueles que os oradores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m na tribuna.<br />

19.6. Não será <strong>de</strong>mais sublinhar que os i<strong>de</strong>ais<br />

<strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> Atenas resultam <strong>de</strong> uma prática<br />

generalizada <strong>de</strong> todos os cidadãos, e não <strong>de</strong> uma<br />

qualquer teoria, seja ela uma “teoria da constituição”,<br />

seja algo <strong>de</strong> parecido às actuais “<strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> direitos”,<br />

humanos ou outros 286 . A lei é respeitada, não como uma<br />

283 Caso do Aristogíton referido na nota prece<strong>de</strong>nte.<br />

284 É o caso <strong>de</strong> oradores que fazem tudo para beneficiar, não<br />

a comunida<strong>de</strong> no seu todo, mas sim um grupo <strong>de</strong> interesses, um<br />

lobby, o que é uma forma <strong>de</strong> antipatriotismo.<br />

285 Veja-se o papel dos <strong>de</strong>magogos na condução da política<br />

ateniense <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Péricles, nomeadamente a sua condução<br />

da guerra com Esparta; cf. a crítica a Cléon e outros nas comédias <strong>de</strong><br />

Aristófanes, em especial Os Acarnenses, ou Os Cavaleiros.<br />

286 Note-se a diferença que separa a Política <strong>de</strong> Aristóteles, da<br />

Constituição dos Atenienses do mesmo pensador: na Política teoriza a<br />

pólis grega i<strong>de</strong>al, não i<strong>de</strong>ntificável com esta ou aquela pólis concreta,<br />

como a forma suprema <strong>de</strong> realização ética do indivíduo, na Constituição<br />

dos Atenienses <strong>de</strong>screve, dum ponto <strong>de</strong> vista eminentemente prático,<br />

um organismo político concreto, a pólis <strong>de</strong> Atenas.<br />

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