Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
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J. A. Segurado e Campos<br />
cida<strong>de</strong> é particularmente grave porque, do modo como<br />
se processou, equivaleu a um corte total com a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> origem, Atenas: <strong>Leócrates</strong> trocou a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cidadão ateniense pela humilhante situação <strong>de</strong> meteco,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um patrono natural<br />
<strong>de</strong> Mégara 149 ; encarregou um cunhado <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r os<br />
seus bens ( casa e os escravos, provavelmente os que<br />
trabalhavam na sua metalúrgica) em Atenas, e <strong>de</strong> com o<br />
produto da venda pagar as dívidas aos credores 150 .<br />
Mais grave ainda do estes factos, já <strong>de</strong> si<br />
bastante graves por implicarem, como Licurgo reitera<br />
repetidamente, a recusa em aceitar os preceitos cívicos<br />
em que se baseava a <strong>de</strong>mocracia ateniense 151 , é a atitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong> ao mandar buscar “as imagens do culto<br />
familiar”, fazendo-as partilhar da sua fuga e do seu<br />
“exílio”. Tais cultos e tais imagens divinas estão, por<br />
natureza, associadas à terra a que pertencem, e por isso<br />
quem ponha em paralelo esta imprecisão com aquela que se verifica<br />
(?) na <strong>de</strong>terminação do período <strong>de</strong> tempo que o orador atribui è<br />
hegemonia ateniense posterior a Salamina: noventa anos segundo<br />
os manuscritos, setenta segundo os cálculos dos historiadores (cf.<br />
C. Leocr., 72, e nota correspon<strong>de</strong>nte). Estamos em crer que não<br />
é necessário sermos tão rigorosos quanto a este ponto: a tese <strong>de</strong><br />
Licurgo, aquilo que ele preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar aos juízes e, para<br />
além <strong>de</strong>stes, a todos os Atenienses, é que, primeiro, <strong>Leócrates</strong><br />
traiu a sua cida<strong>de</strong>; segundo, que tal traição merece a con<strong>de</strong>nação<br />
à pena máxima. Para este efeito é irrelevante que <strong>Leócrates</strong> tenha<br />
permanecido em Mégara cinco, seis ou mais anos. Pela mesma<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, a importância do período <strong>de</strong> tempo em que Atenas<br />
exerceu a hegemonia no mundo grego também não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<br />
sua duração ser <strong>de</strong> setenta ou <strong>de</strong> noventa anos.<br />
149 C. Leocr., 21.<br />
150 C. Leocr., 22.<br />
151 V. C. Leocr., 43, 44, 53, 77, 78, 85, 101, 110, 143, 144.<br />
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