Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
J. A. Segurado e Campos<br />
18.5. A indignação <strong>de</strong> Licurgo, contudo, está<br />
longe <strong>de</strong> ser apenas a indignação do moralista perante um<br />
acto que consi<strong>de</strong>ra indigno, ou a do jurista e legislador<br />
que classifica esse acto como um crime: é também a<br />
indignação do homem religioso ao ver alguém praticar<br />
um sacrilégio, o que explica que Licurgo inicie o discurso<br />
com uma prece a Atena e todos os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>uses e<br />
heróis protectores da cida<strong>de</strong>, e bem assim a importância<br />
acusatória que o orador atribui ao acto <strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong>, ao<br />
mandar vir <strong>de</strong> Atenas as imagens sagradas imagens dos<br />
<strong>de</strong>uses particulares da casa, que ele obrigou assim como<br />
que a partilhar o seu “exílio” numa terra estrangeira 247 .<br />
Po<strong>de</strong> dizer-se mesmo que, segundo uma expressão <strong>de</strong><br />
Demóstenes, Licurgo faz comparecer no tribunal as<br />
divinda<strong>de</strong>s como autênticas testemunhas da acusação:<br />
“Licurgo convoca como testemunhas não apenas Atena, como<br />
também a própria mãe dos <strong>de</strong>uses, e com toda a justiça” 248 .<br />
18.6. Νão po<strong>de</strong>mos ainda <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a<br />
<strong>de</strong>ínôsis como marca do carácter orgulhoso <strong>de</strong> Licurgo,<br />
um orgulho <strong>de</strong>rivado, por um lado, da sua origem<br />
aristocrática, por outro, da sua consciência <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrata,<br />
<strong>de</strong>fensor intransigente dos valores que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre teriam<br />
marcado a pólis como exemplo máximo da liberda<strong>de</strong> e da<br />
dignida<strong>de</strong> da Grécia, como o orador acentua com energia<br />
ao terminar a citação <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s: Estes foram, Cidadãos,<br />
os ensinamentos que formaram os vossos pais 249 .<br />
247 C. Leocr., 25, 35, 38, 56, 97.<br />
248 Demóstenes, XXV, 97.<br />
249 C. Leocr., 101.<br />
98