Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
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Licurgo<br />
da cida<strong>de</strong>. Toda a cida<strong>de</strong> confia, para a sua preservação,<br />
na vigilância exercida por cada um dos seus habitantes;<br />
quando alguém falha o cumprimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ver,<br />
num aspecto só que seja, está a pôr em causa, ainda<br />
que inconscientemente, o cumprimento <strong>de</strong> todos os<br />
<strong>de</strong>mais.<br />
É fácil, Cidadãos, certificarmo-nos <strong>de</strong>sta verda<strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rando as disposições dos antigos legisladores 72 .<br />
65. Eles con<strong>de</strong>navam à morte o ladrão que roubava cem<br />
talentos, mas não era menor a pena que atribuíam a<br />
quem furtava <strong>de</strong>z dracmas; puniam com a pena capital<br />
quem saqueasse um santuário, mas não era mais ligeira<br />
a punição dada a um sacrilégio menos grave. Também<br />
não castigavam só com uma multa o assassino <strong>de</strong> um<br />
escravo, nem apenas privavam dos direitos cívicos<br />
o homicida <strong>de</strong> um cidadão livre. Não, para todas as<br />
infracções à lei, mesmo as mais ligeiras, a punição fixada<br />
era a morte 73 .<br />
66. Cada um dos juízes <strong>de</strong> então não se limitava<br />
a analisar as particularida<strong>de</strong>s do caso concreto, nem<br />
político <strong>de</strong> Licurgo: a <strong>de</strong>mocracia só faz sentido se todos, sem<br />
excepção, cumprirem os seus <strong>de</strong>veres cívicos. O facto <strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong> se<br />
eximir ao seu cumprimento é duplamente grave: em si mesmo, e<br />
como exemplo.<br />
72 Os “antigos legisladores” que Licurgo tem em mente po<strong>de</strong>rão<br />
ser Drácon e Sólon (Petrie, p. 132, Durrbach, p. 53, n. 3), mais<br />
provavelmente apenas Drácon (Engels. p. 148); do silêncio <strong>de</strong><br />
Treves e Burtt po<strong>de</strong>rá talvez concluir-se que para estes autores<br />
Licurgo não se está referindo a ninguém em especial.<br />
73 Antes <strong>de</strong> Zenão, já Licurgo <strong>de</strong>fendia a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “todos os<br />
crimes são iguais”, pelo que igualmente todos os crimes <strong>de</strong>vem ter<br />
punição igual (cf. Cícero, Paradoxa Stoicorum, paradoxo III).<br />
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