Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
J. A. Segurado e Campos<br />
da cida<strong>de</strong> predominar o sentimento, quer da liberda<strong>de</strong><br />
(eleuthería) quer da segurança (sôtêría), em termos <strong>de</strong><br />
colectivida<strong>de</strong>. Por outras palavras, o indivíduo existe<br />
enquanto membro do dêmos, não como ser autónomo<br />
e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: a liberda<strong>de</strong> é a liberda<strong>de</strong> colectiva;<br />
concomitantemente também a segurança só faz sentido<br />
se for entendida em termos colectivos, pelo que não<br />
é legítima a procura <strong>de</strong> segurança pessoal indiferente<br />
à segurança da comunida<strong>de</strong>. Uma consulta rápida ao<br />
In<strong>de</strong>x Verborum <strong>de</strong> Licurgo permite-nos verificar como<br />
<strong>de</strong> facto são frequentes os dois termos--chave que<br />
consi<strong>de</strong>rámos, eleuthería e sôtêría, respectivamente com<br />
12 e 24 ocorrências 129 . São significativos estes números,<br />
porquanto, ao passo que Licurgo, quando emprega<br />
o termo eleuthería, está sempre a referir-se à liberda<strong>de</strong><br />
colectiva da Grécia, ou <strong>de</strong> Atenas, ao usar sôtêría aplica o<br />
termo, umas vezes à segurança comum (koinê), e como<br />
tal louvável, outras vezes à segurança pessoal (idía) <strong>de</strong><br />
<strong>Leócrates</strong>, por <strong>de</strong>finição con<strong>de</strong>nável.<br />
11.9. À luz <strong>de</strong>stes factos po<strong>de</strong>mos acrescentar<br />
algumas observações a certos aspectos já referidos da<br />
129 Um outro termo existe que também faz parte das caracterizações<br />
tradicionais da <strong>de</strong>mocracia, íson “igualda<strong>de</strong>” (cf. a máxima<br />
da Revolução Francesa: Liberté, Égalité, Fraternité). Este termo, e<br />
isso também é significativo, ocorre apenas uma vez no texto do C.<br />
Leocr., numa frase em que Licurgo consi<strong>de</strong>ra “terrível e lamentável”<br />
que <strong>Leócrates</strong> se atreva a imaginar que têm os mesmo direitos, ele<br />
o <strong>de</strong>sertor, e os homens que combateram em Queroneia ou que<br />
permaneceram na cida<strong>de</strong> para participar na sua <strong>de</strong>fesa (C. Leocr.,<br />
142). O orador, por conseguinte, não po<strong>de</strong> falar em “igualda<strong>de</strong>”<br />
(embora esta esteja implícita numa verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>mocracia) no seu<br />
discurso por este tomar como tema a “<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>” que se verifica<br />
entre <strong>Leócrates</strong> e os <strong>de</strong>mais cidadãos.<br />
50