Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Li c u r g O: O O ra d O r e a s u a c i rc u n s t â n c i a<br />
Há, sem dúvida, uma parte <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> nesta<br />
argumentação. No entanto, há um pormenor, <strong>de</strong> resto<br />
também assinalado por Allen 128 , que quanto a nós é<br />
essencial para explicar o triunfo <strong>de</strong> Filipe II: “(the)<br />
conflict between national freedom and personal security”,<br />
e não menos fundamental para situar e enten<strong>de</strong>r o<br />
discurso <strong>Contra</strong> <strong>Leócrates</strong>.<br />
11.8. O processo movido pelo orador e político<br />
ateniense Licurgo contra o homem <strong>de</strong> negócios também<br />
ateniense <strong>Leócrates</strong> tem por base esse contraste entre<br />
duas posições diametralmente opostas: por uma lado a<br />
i<strong>de</strong>ologia da <strong>de</strong>mocracia ateniense, baseada na igualda<strong>de</strong><br />
dos cidadãos perante a lei (isonomía), em que o po<strong>de</strong>r<br />
é assumido colectiva e directamente pelo povo (dêmos),<br />
quer na Assembleia (ekklêsía), quer nos tribunais<br />
(dikastêria), por outros os direitos do indivíduo, ou o<br />
que cada indivíduo interpreta como os seus direitos: a<br />
liberda<strong>de</strong> pessoal, o direito à privacida<strong>de</strong>, sobretudo, e<br />
foi esse o “crime” <strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong>, a primazia dada aos seus<br />
interesses particulares, em <strong>de</strong>trimento do que seriam<br />
os interesses colectivos <strong>de</strong> Atenas. Sem entrarmos nos<br />
pormenores do modus operandi da <strong>de</strong>mocracia, nem na<br />
crítica do sistema conduzida a partir <strong>de</strong> perspectivas<br />
mo<strong>de</strong>rnas, apenas <strong>de</strong>sejamos <strong>de</strong>ixar bem vincada<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia como a<br />
ateniense só funciona enquanto na vida quotidiana<br />
se veio a verificar com Alexandre); a po<strong>de</strong>rosa capacida<strong>de</strong> oratória<br />
<strong>de</strong> Demóstenes, em acção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Primeira Filípica (351) até às<br />
Segunda, Terceira e Quarta (344-343), passando pelas orações Sobre<br />
Olinto, 349, e pelo apoio contrariado à paz <strong>de</strong> Filócrates em 346.<br />
128 J. Allen, 2005, p. 89.<br />
49