Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
J. A. Segurado e Campos<br />
votadas a lei ateniense não admitia recurso 320 , e os juízes<br />
não podiam ser judicialmente responsabilizados no caso<br />
<strong>de</strong> proferirem sentenças capazes <strong>de</strong> virem a verificar-se<br />
erradas, ou, pelo menos, exageradas, quer por excesso<br />
quer por <strong>de</strong>feito 321 . Mas Licurgo está <strong>de</strong>ntro da verda<strong>de</strong><br />
quando afirma que um crime ainda não julgado é da<br />
responsabilida<strong>de</strong> do seu autor, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> proferida a<br />
sentença <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> caber ao eventual criminoso e passa a ser<br />
totalmente da responsabilida<strong>de</strong> dos juízes. Estes nunca<br />
serão processados por um erro judicial que cometam,<br />
mas a sua consciência moral acusá-los-á se, porventura,<br />
o seu voto não tiver sido dado com equida<strong>de</strong>: como<br />
Licurgo lembra, o voto <strong>de</strong> cada juiz não é conhecido<br />
senão <strong>de</strong>le mesmo e dos <strong>de</strong>uses 322 , com as implicações<br />
que cada qual preten<strong>de</strong>r tirar <strong>de</strong>ste facto.<br />
19.23. A par dos <strong>de</strong>veres dos juízes Licurgo<br />
também se pronuncia com pormenor sobre os <strong>de</strong>veres<br />
dos oradores.<br />
Uma primeira e fundamental dicotomia <strong>de</strong>ve ser<br />
feita antes <strong>de</strong> mais: a distinção entre os bons e os maus<br />
oradores 323 , ou sicofantas 324 . O mau orador distingue-se<br />
320 O que podia dar azo a erros judiciais graves nos casos <strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>nados à pena máxima, mas não apenas a essa pena.<br />
321 A própria circunstância <strong>de</strong> o número <strong>de</strong> juízes ser tão<br />
elevado excluía a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eles serem responsabilizados pelas<br />
consequências <strong>de</strong> uma sentença injusta.<br />
322 C. Leocr., § 146.<br />
323 A distinção entre oradores bons e oradores maus não tem,<br />
neste contexto, nada a ver com a sua habilida<strong>de</strong> técnica no uso da<br />
palavra, sobre a riqueza dos seus recursos retóricos, sobre o brilho da<br />
linguagem, e outros pormenores afins. “Bons” e “maus” referem-se<br />
aqui em exclusivo à qualida<strong>de</strong> ética do orador.<br />
324 Literalmente, “sicofanta”, gr. sykophántês (