Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
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Li c u r g O: O O ra d O r e a s u a c i rc u n s t â n c i a<br />
da oratória ateniense: apenas um bom orador, ou seja,<br />
um orador que seja ao mesmo tempo um irrepreensível<br />
cidadão, merece ser convidado pela pólis para pronunciar<br />
o epitáphios lógos, a “oração fúnebre” em honra dos mortos<br />
em combate em cada ano <strong>de</strong> guerra, tipo <strong>de</strong> discurso <strong>de</strong><br />
que o exemplo mais célebre é o pronunciado por Péricles<br />
no início da guerra do Peloponeso e reelaborado por<br />
Tucídi<strong>de</strong>s na sua história 341 . A oração fúnebre é uma das<br />
varieda<strong>de</strong>s do género epidíctico, <strong>de</strong>finido por Aristóteles<br />
na Retórica, em contraste com os géneros <strong>de</strong>liberativo<br />
e judicial, como o tipo <strong>de</strong> discurso que tem por fim<br />
avaliar uma <strong>de</strong>terminada posição <strong>de</strong> modo a sobre ela<br />
se pronunciar sob a forma <strong>de</strong> censura ou <strong>de</strong> elogio 342 .<br />
Tanto quanto sabemos, as circunstâncias graves em que<br />
se viu Atenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Queroneia não proporcionaram<br />
o ambiente ajustado à cerimónia da apresentação <strong>de</strong><br />
uma oração fúnebre em honra dos mortos na batalha.<br />
De qualquer modo, Licurgo não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> aproveitar a<br />
oportunida<strong>de</strong> para inserir na acusação a <strong>Leócrates</strong>, um<br />
inflamado encómio <strong>de</strong>sses mortos 343 , um excerto que<br />
po<strong>de</strong>mos, sem risco <strong>de</strong> exagero, classificar como uma<br />
pequena “oração fúnebre”, a qual, a par <strong>de</strong> outros passos<br />
do discurso – exemplos históricos, narrativas míticas ou<br />
lendárias, citações poéticas – po<strong>de</strong> ser interpretada como<br />
mais uma “testemunha” a <strong>de</strong>por contra o acusado. Não<br />
será necessário salientar até que ponto a inclusão <strong>de</strong>ste<br />
341 Tucídi<strong>de</strong>s, História da Guerra do Peloponeso, II, 35-46. Outra<br />
oração do mesmo género é a <strong>de</strong> Hiperi<strong>de</strong>s, com data <strong>de</strong> 322, a<br />
propósito dos caídos durante a guerra <strong>de</strong> Lâmias (323-322).<br />
342 Aristóteles, Retórica, 1358 b 1-13.<br />
343 C. Leocr.,§ 46-51.<br />
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