Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
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Ora ç ã O CO n t ra LeóCrates<br />
para recorrer à história antiga, no <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Tróia:<br />
quem não ouviu contar como ela foi a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
cida<strong>de</strong> do seu tempo, como dominava toda a Ásia, mas<br />
também como, uma vez que os Gregos a <strong>de</strong>struíram,<br />
<strong>de</strong>ixou para sempre <strong>de</strong> ser habitada? E que dizer <strong>de</strong><br />
Messene 68 , habitada <strong>de</strong> novo com populações casuais 69 ,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quinhentos anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>solação 70 ?<br />
63. Talvez algum dos seus <strong>de</strong>fensores se atreva,<br />
para minimizar o acto <strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong>, a dizer que nenhuma<br />
<strong>de</strong>stas catástrofes foi obra <strong>de</strong> um homem só. Não têm<br />
vergonha <strong>de</strong> recorrer diante <strong>de</strong> vós a uma tal <strong>de</strong>fesa, digna<br />
só por si <strong>de</strong> ser castigada com a morte. Se reconhecem<br />
que <strong>Leócrates</strong> <strong>de</strong>sertou da pátria, a consequência lógica<br />
da concessão <strong>de</strong>ste ponto é <strong>de</strong>ixar que sejais vós a ajuizar<br />
da gran<strong>de</strong>za do crime.<br />
Suponhamos, contudo, que <strong>Leócrates</strong> está<br />
inocente e não fez nada do que eu disse. Mesmo assim<br />
seria loucura afirmar que dos actos <strong>de</strong>le nunca po<strong>de</strong>ria<br />
resultar nenhuma consequência <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>.<br />
64. Por mim, Cidadãos, penso exactamente o<br />
contrário <strong>de</strong>les 71 : que <strong>de</strong>ste homem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a salvação<br />
68 Messene, fundada por Epaminondas em 369 como capital<br />
da Messénia. Esta fundação, ou melhor, refundação, dado que<br />
os antigos Messénios nunca tinham sido exterminados, mas<br />
apenas dispersos, integrava-se na política tebana <strong>de</strong> construir no<br />
Peloponeso uma cida<strong>de</strong> com potencial bastante para manter<br />
Esparta em respeito.<br />
69 Alusão à diáspora das antigas populações da Messénia referida<br />
na n. prece<strong>de</strong>nte.<br />
70 Sobre a imprecisão e dificulda<strong>de</strong> levantada por este enigmático<br />
período <strong>de</strong> “quinhentos anos” v. Petrie 1922, p. 130, Engels 2008,<br />
pp. 147-148.<br />
71 Neste parágrafo e nos imediatos está contido o pensamento