Oração Contra Leócrates - Universidade de Coimbra
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Li c u r g O: O O ra d O r e a s u a c i rc u n s t â n c i a<br />
o orador preten<strong>de</strong> mostrar a sua indignação, convencer o<br />
auditório a assumir também por sua conta essa indignação<br />
perante a dureza dos factos que faz passar diante dos olhos<br />
e da consciência 242 . Suce<strong>de</strong> que, como observa Kunst, a<br />
<strong>de</strong>ínôsis “indignação” 243 , e também a aúxêsis “exageração”<br />
são traços característicos da legislação anterior a Sólon,<br />
e.g. a famosa “lei <strong>de</strong> Drácon” 244 . De facto, na falta <strong>de</strong> uma<br />
lei, Licurgo baseia a sua eisaggelía na indignação que sente<br />
perante a <strong>de</strong>sfaçatez <strong>de</strong> <strong>Leócrates</strong>, passeando-se pela ágora<br />
sem mostrar qualquer arrependimento pela traição à pátria<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria sentir-se culpado 245 . Além disso Licurgo<br />
assume sem hesitação a sua concordância com a posição<br />
dos antigos legisladores que tratavam com severida<strong>de</strong> todos<br />
os <strong>de</strong>litos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> os crimes contemplados<br />
pela lei serem <strong>de</strong> maior ou menor gravida<strong>de</strong> “material”:<br />
para legisladores como Drácon todas as infracções eram<br />
iguais, pelo que as penas a aplicar <strong>de</strong>veriam ser iguais 246 .<br />
242 A propósito <strong>de</strong>stas características do estilo <strong>de</strong> Licurgo, Blass<br />
comenta: “Völlig fremd aber ist ihm (= Licurgo), wie schon Dionysios<br />
hervorhebt, alles, was <strong>de</strong>n Ernst <strong>de</strong>r re<strong>de</strong> stören könnte, also damit die<br />
sämmtlichen Vorzüge, die <strong>de</strong>n Hyperei<strong>de</strong>s so beliebt macht. Bei ihm<br />
(= Licurgo) ist sogar eine geringe ironische o<strong>de</strong>r spöttische Färbung nur<br />
ausnahmsweise vorhan<strong>de</strong>n” (o.c., p. 135, n. 2). Um exemplo <strong>de</strong>ssas<br />
excepções é o final do § 78.<br />
243 A título <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>, recor<strong>de</strong>-se como a <strong>de</strong>ímôsis costuma<br />
ser apontada pela crítica como a característica fundamental da<br />
sátira do romano Juvenal, como se <strong>de</strong>duz da afirmação feita pelo<br />
poeta <strong>de</strong> que a acumulação <strong>de</strong> vícios na sua época é <strong>de</strong> tal maneira<br />
enorme que o único género literário susceptível <strong>de</strong> ser praticado é<br />
precisamente a sátira (v. sobre este tema Bellandi, 1973)<br />
244 Kuns, PW, l.c., 2461.<br />
245 C. Leocr., 5.<br />
246 C. Leocr., 65.<br />
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