18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

[...] o mundo do texto, sob o sig<strong>no</strong> do como se, não mais pode se designar a si<br />

mesmo, mas sim remeter ao <strong>que</strong> não é. Noutras palavras: embora ele não seja um<br />

mundo real, deve ser considerado como tal e, deste modo, a finali<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> começa<br />

a se esboçar pelo ato de remissão, deve ser compreendi<strong>da</strong> como a possibili<strong>da</strong>de de<br />

tornar­se perceptível...Pois tornar­se perceptível não se confunde com nenhuma<br />

característica do mundo enquanto tal (2002, p.977).<br />

Como disseram Maria Martoccia e Janiera Gutiérrez em Corpos frágeis, mulheres<br />

poderosas, “Virginia gostava de especular sobre o <strong>que</strong> ´podia ter acontecido´, e não havia<br />

diferença substancial em relação ao <strong>que</strong> realmente ocorrera” (2003, p.60). Em As Horas,<br />

vimos Mrs. Woolf “seleciona<strong>da</strong> e combina<strong>da</strong>” por Cunningham; um recorte de sua vi<strong>da</strong> “...<br />

medi<strong>da</strong> xícara por xícara...” (CUNNIGHAM, 1998, p.136), para <strong>que</strong> tanto a leitora do livro,<br />

Mrs. Brown, quanto nós leitores de As Horas, possamos ultrapassar os limites entre reali<strong>da</strong>de<br />

e ficção.<br />

Em As Horas, Mrs. Woolf é descrita como Virginia Stephen, uma mulher páli<strong>da</strong>, alta,<br />

tão surpreendente quanto um Rembrandt ou Veláz<strong>que</strong>z, e mais adiante até de um Giotto<br />

(CUNNINGHAM, 1998, p.94) e <strong>que</strong> começa a apresentar traços de <strong>que</strong>m envelheceu<br />

dramaticamente: “Começa a <strong>da</strong>r a impressão de ter sido entalha<strong>da</strong> num mármore muito<br />

poroso, branco­acinzentado. Continua majestosa, a mesma conformação apura<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> dona<br />

de sua formidável radiância lunar...” (CUNNINGHAM, 1998, p. 33).<br />

Interessante o <strong>no</strong>me do personagem ser o mesmo <strong>no</strong>me <strong>da</strong> escritora<br />

Virginia, como também sua referência aos pintores holandês e espanhol, conhecido por suas<br />

pinturas sombrias e maestrias com a luz. Sua figura “entalha<strong>da</strong>” vai contrastar assim com a<br />

sua “ain<strong>da</strong>” radiância, mas <strong>que</strong> ao invés de ser uma radiância solar, a referência é com a lua, e<br />

a lua, simbolicamente, tem sua ligação com a <strong>no</strong>ite ao invés do dia. Essa associação vem<br />

desde quando o sentido patriarcal sobrepôs­se ao matriarcal; a lua tor<strong>no</strong>u­se assim “Senhor<br />

<strong>da</strong>s Mulheres”. Outra informação <strong>da</strong> simbologia <strong>da</strong> lua se refere ao mito do desmembramento,<br />

bem como os ritmos lunares utilizados para <strong>da</strong>r a medi<strong>da</strong> do tempo, e para unificar os<br />

períodos através <strong>da</strong> sua ação. Sem falar nas fases <strong>da</strong> lua; fases relaciona<strong>da</strong>s com a biologia <strong>da</strong><br />

mulher, mas também com leis <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça, <strong>da</strong>s estações, <strong>da</strong>s i<strong>da</strong>des do homem e<br />

conse<strong>que</strong>ntemente com a morte (CIRLOT, 1984, p. 351­354).<br />

Virgínia teve conflitos com sua identi<strong>da</strong>de sexual e mergulhava em devaneios<br />

literários como forma de superação de sua própria languidez, como fala Luiz Augusto Passos,<br />

<strong>no</strong> livro A mulher vai ao cinema: “Em seu esvaziamento aéreo, deixava a terra corpórea,<br />

buscando cessar seu fogo obsessivo na vaga <strong>da</strong>s águas (DE CASTRO TEIXEIRA, 2005,<br />

p.206).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!