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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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“deusa importuna”, a Conversão ama o sangue mais <strong>que</strong> a pedra; tinha um doce sorriso <strong>que</strong><br />

<strong>que</strong>stionava se viver ou não viver, não era um assunto particular (WOOLF,1980, p.99).<br />

Em Mrs. Dalloway, Woolf além de teorizar sobre a natureza humana, a condição<br />

também humana, a saúde mental, ain<strong>da</strong> <strong>que</strong>stionava o real como medi<strong>da</strong> dessa teoria <strong>da</strong><br />

Medi<strong>da</strong> certa x Conversão. O personagem de Septimus <strong>que</strong>stionava o real quando olhava para<br />

o gramofone, para a gravura <strong>da</strong> Rainha Vitória, e para a jarra de rosas: “Tudo estava quieto;<br />

tudo era real” (1980, p. 137). Através de Septimus, quando tenta olhar sua mulher, Rezia,<br />

temos também a crítica ao sujeito fragmentado tão emblemático do sujeito do pós­<br />

modernismo: “Septimuns levou as mãos aos olhos, de modo a ver­lhe somente um pe<strong>da</strong>ço do<br />

rosto de ca<strong>da</strong> vez; primeiro o <strong>que</strong>ixo; depois o nariz; depois a fronte, pois tinha medo de <strong>que</strong><br />

estivessem deformados ou houvesse neles alguma terrível marca” (1980, p. 137).<br />

E nesse olhar fragmentado de ver as partes pelo todo, Septimus filosofa por entre o<br />

concreto e o abstrato. O concreto do fazer <strong>da</strong> sua mulher, ou o coser chapéus, e a sua condição<br />

de não saber ao certo a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coisas; e pondera:<br />

Por <strong>que</strong> tremer e soluçar junto às nuvens? Por <strong>que</strong> descobrir ver<strong>da</strong>des e enviar<br />

mensagens, quando Rezia estava senta<strong>da</strong> a prender alfinetes <strong>no</strong> peito do<br />

vestido....Milagres, revelações, agonias, <strong>que</strong><strong>da</strong>s <strong>no</strong> mar, <strong>no</strong> mar ou nas chamas, tudo<br />

se desvanecia agora, pois enquanto via Rezia guarnecer o chapéu de palha de Mrs.<br />

Peter, sentia­se em uma colcha de flores (1980, p.138).<br />

Dr. Holmes e Dr. Bradshaw, os médicos <strong>que</strong> tinham o poder sobre Septimus; <strong>que</strong> lhes<br />

falava o <strong>que</strong> devia fazer, <strong>que</strong> lhes ditavam as regras e <strong>que</strong> estavam a “farejar os sítios mais<br />

secretos” como os seus escritos sobre a significação do mundo (1980, p. 142).<br />

Assim como o poder médico, Mrs. Woolf, na sua cena do trem, faz a crítica ao poder<br />

do masculi<strong>no</strong>, do marido e <strong>da</strong> ordem patriarcal. Poder esse <strong>que</strong> a prendia num cativeiro<br />

doméstico numa “severa melancolia atrás de sorrisos trêmulos”, como falou Arnaldo Jabor ao<br />

analisar o filme As Horas <strong>no</strong> seu artigo “A depressão <strong>no</strong>s salva <strong>da</strong> alegria de mercado”<br />

(2004). Jabor reafirma <strong>que</strong> <strong>no</strong> filme correm paralelas as três fases <strong>da</strong> infelici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

mulheres <strong>no</strong>s últimos cem a<strong>no</strong>s e enumera: “a depressão pós­vitoriana, a depressão <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

50 e a depressão hoje.” Jabor comenta <strong>que</strong> as mulheres carregam “o fardo <strong>da</strong> dor histórica”<br />

por serem mais sensíveis e mais domina<strong>da</strong>s. Que os homens, do<strong>no</strong>s <strong>da</strong> ilusão fálica,<br />

escamoteiam essa dor como uma mania qual<strong>que</strong>r, com uma obsessão bélica, financeira ou<br />

política, enquanto as mulheres ficam com essa dor incompreendi<strong>da</strong>. Ele faz referência à<br />

geração anterior como a<strong>que</strong>la <strong>que</strong> tem uma infelici<strong>da</strong>de tristinha, com lâmpa<strong>da</strong> fraca, de<br />

<strong>no</strong>vela de rádio, lágrimas furtivas e o marido reinando, e <strong>que</strong> hoje mudou a dominação. A

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