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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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uscasse esse colo embalador <strong>da</strong>s águas, em busca de um afeto maternal. Água <strong>que</strong> segundo<br />

Tory Young, era para Woolf, uma metáfora do fluxo do desespero através <strong>da</strong>s também<br />

metáforas do afun<strong>da</strong>r­se, do mergulhar­se, levantar­se (2003, p.42).<br />

Virginia Woolf sempre teve nas Águas, um recurso presente na sua obra literária e na<br />

vi<strong>da</strong> também. Escreveu livros com títulos sugestivos: As On<strong>da</strong>s, To the lighthouse (morou na<br />

região <strong>da</strong> Cornualia, costa <strong>da</strong> Inglaterra); utilizou metáforas de peixe, para falar dos<br />

<strong>mergulho</strong>s do inconsciente e <strong>da</strong> escrita; e quando fala do “sujeito <strong>da</strong>s memórias” se descreve<br />

como: “[...] um peixe num rio; ar<strong>que</strong>ado; impedido de se mover; mas incapaz de analisar o<br />

rio” (WOOLF, 1985, p.94).<br />

O rio para Virginia tinha to<strong>da</strong> uma relação com a sua existência e suas idéias. A<br />

escolha desse set para abertura do filme, vai dominar essa seqüência, como também exercer<br />

to<strong>da</strong> uma função simbólica relativa à morte de Virginia Woolf, como também <strong>da</strong> morte do<br />

autor, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> própria Virginia e também de Mrs. Woolf.<br />

Virginia Woolf morava em frente a um rio, o Ouze, <strong>que</strong> vai ser sua última mora<strong>da</strong>,<br />

como pode já podia prever nessa fala: “[...] escrevo isto, em parte, para recuperar minha<br />

<strong>no</strong>ção do presente fazendo o passado sombrear essa superfície partido. Desço então, tal qual<br />

uma criança avançando de pés descalços num rio de águas frias, <strong>no</strong>vamente para o fundo<br />

desse rio” (1985, p.114).<br />

A metáfora do rio para Woolf também estava conecta<strong>da</strong> com a relação do presente x<br />

passado; “O passado só volta quando o pressente corre tão suavemente <strong>que</strong> se assemelha à<br />

superfície móvel de um rio fundo....Pois o presente com o apoio do passado é mil vezes mais<br />

profundo do <strong>que</strong> o presente <strong>que</strong> está tão próximo <strong>que</strong> não se pode sentir mais na<strong>da</strong>, quando o<br />

filme na câmara só alcança o olho” (1985, p.114).<br />

As palavras de despedi<strong>da</strong> de Virginia para Leonard são a costura dessas cenas quando<br />

entra <strong>no</strong> rio, e só aí começa a música melancólica de Phillip Glass, com a chega<strong>da</strong> de<br />

Leonard. A sua voz é concomitante ao momento <strong>da</strong> sua escrita. Enquanto isso, temos os<br />

sapatos de Virginia atolados na beira do rio, como se já não quisesse, ou não pudesse,<br />

caminhar pela vi<strong>da</strong> afora. Veio­me a memória o texto de Auerbach “A meia marrom”(2004,<br />

p.471­498), <strong>que</strong>m sabe a<strong>que</strong>la mesma meia <strong>que</strong> logo estará imersa <strong>no</strong> seu último <strong>mergulho</strong>.<br />

Virginia entra tateante <strong>no</strong> rio, primeiro na margem lamacenta onde se detém por um instante<br />

para ouvir do rio “não sua voz, mas um suspiro, o suspiro <strong>da</strong>s plantas langorosas, a carícia<br />

triste e farfalhante <strong>da</strong> folhagem.” (BACHELARD, 2002, p. 71), O seu olhar de desejo ardente<br />

para o rio acontece simultaneamente com o olhar de Leonard para os bilhetes tão bem postos,<br />

simetricamente, lado a lado – um bilhete para Leonard, outro para Vanessa (sua irmã).

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