que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
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[...]considerando <strong>que</strong> tanto a plastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens quanto o movimento <strong>da</strong><br />
câmera são capazes de extrair <strong>da</strong>s coisas do mundo significados recônditos <strong>que</strong> sua<br />
existência prosaica retém. O poético se manifestaria, assim, <strong>no</strong> ponto em <strong>que</strong> o<br />
discurso fílmico, decompondo ´um fato em seus elmentos fotogênico´, libertarseia<br />
<strong>da</strong> lógica <strong>da</strong> seqüenciali<strong>da</strong>de do relato e, através dos recursos técnicos de <strong>que</strong> se<br />
constitui, revelaria a essenciali<strong>da</strong>de de um gesto, de um objeto, de um sentimento.<br />
(2004, p.:72)<br />
Nesta seqüência temos um jogo <strong>da</strong> sincronia do tempo e com a temporali<strong>da</strong>de do<br />
<strong>espaço</strong>, à medi<strong>da</strong> <strong>que</strong> mistura presente, passado e futuro em um <strong>espaço</strong> móvel, <strong>vertigi<strong>no</strong>so</strong>,<br />
representado pelas águas escuras do rio. As águas <strong>que</strong> inun<strong>da</strong>m Laura são as mesmas águas a<br />
<strong>que</strong> Virgínia se entregara, aproximando ain<strong>da</strong> mais essas duas mulheres, como explica<br />
Genil<strong>da</strong> Azeredo, formando “um entrelaçamento labiríntico <strong>da</strong> autorapersonagem e<br />
personagemleitora” (2004). Nessa cena temos também todos os tipos de transgressão de<br />
limites seja na seleção, seja na combinação dos elementos textuais de <strong>que</strong> fala Iser (2002, p.<br />
960963). A seqüência é interrompi<strong>da</strong> por Virginia dizendo enfaticamente: “Eu ia matar<br />
minha heroína, mas mudei de idéia.”. Laura Brown acor<strong>da</strong> assusta<strong>da</strong> e somos informados <strong>que</strong><br />
as águas escuras são o seu pesadelo. No susto, Laura fala determina<strong>da</strong>: “Não posso!” E chora<br />
desespera<strong>da</strong>. Desespero e melancolia juntos, como ilustra Bachelard: “Ca<strong>da</strong> hora medita<strong>da</strong> é<br />
como uma lágrima viva <strong>que</strong> vai unirse à água dos lamentos; o tempo cai gota a gota dos<br />
relógios naturais; o mundo a <strong>que</strong> o tempo dá vi<strong>da</strong> é uma melancolia <strong>que</strong> chora.” (2002, p. 58).<br />
Bachelard ain<strong>da</strong> diz <strong>que</strong>: “A água torna a morte elementar. A água morre com o morto em sua<br />
substância. A água é então um na<strong>da</strong> substancial, Não se pode ir mais longe <strong>no</strong> desespero. Para<br />
certas almas, a água é a matéria do desespero “ (2002, p. 95). Tanto o desespero quanto a água<br />
são sentimentos e elementos vivenciados e escolhidos por Woolf escritora, personagem e por<br />
Laura. Virginia conclui dizendo: “matarei outra pessoa.”. Seus sobrinhos riem dos fragmentos<br />
desencontrados <strong>da</strong>s “duas vi<strong>da</strong>s” <strong>da</strong> tia.<br />
Quanto à essa imaginação literária <strong>da</strong> morte de Virginia com sua heroína Mrs.<br />
Dalloway, <strong>no</strong>s fala Bachelard:<br />
O suicídio na literatura, preparase ao contrário com um longo desti<strong>no</strong> íntimo. É,<br />
literariamente, a morte mais prepara<strong>da</strong>, mas planeja<strong>da</strong>, mais total. O romancista quase<br />
gostaria <strong>que</strong> o Universo inteiro participasse do suicídio de seu herói. O suicídio<br />
literário é, pois, muito capaz de <strong>no</strong>s <strong>da</strong>r a imaginação <strong>da</strong> morte. Ele põe em ordem as<br />
imagens <strong>da</strong> morte. (2002, p. 83)<br />
Gaston Bachelard, também <strong>no</strong> livro, A Poética do Espaço, trabalha com uma análise<br />
<strong>que</strong> o filósofo de<strong>no</strong>mina de Topoanálise, e <strong>que</strong> seria “ o estudo psicológico sistemático dos<br />
locais de <strong>no</strong>ssa vi<strong>da</strong> íntima” (2000, p. 28). Assim ele define o <strong>espaço</strong>: