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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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sentir o crescimento inter<strong>no</strong> <strong>da</strong> casa” (BACHELARD, 2000, p. 82). Já Woolf, ao invés de<br />

benefícios, analisa os gestos suplementares <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de uma mulher, como um<br />

mundo de insatisfação e invisibili<strong>da</strong>des:<br />

Mas se alguém lhe perguntasse o <strong>que</strong> a vi<strong>da</strong> significou para ela...ela faria uma<br />

expressão vaga e diria não conseguir lembrar­se de na<strong>da</strong>. Pois todos os jantares<br />

foram preparados; os pratos e copos, lavados; as crianças man<strong>da</strong><strong>da</strong>s para a escola e<br />

mergulha<strong>da</strong>s <strong>no</strong> mundo. Na<strong>da</strong> resta de tudo isso. Tudo se evaporou.” (WOOLF,<br />

2004, p. 98).<br />

Temos aí idéias <strong>que</strong> diferem em <strong>que</strong>stões como: registro x es<strong>que</strong>cimento; lembrança<br />

sonha<strong>da</strong> x reali<strong>da</strong>de concreta; devaneio x despertar.<br />

No <strong>espaço</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e a estreiteza <strong>da</strong> moradia urbana, o trabalho <strong>da</strong> dona de casa<br />

extrapolou o trabalho de arrumação, e passou a desenhar o tempo <strong>da</strong>s mulheres,<br />

transformando­o em um tempo fragmentado relacionado ao <strong>espaço</strong> exterior, como fala Perrot.<br />

“Quando os homens partem para o canteiro de obras, para o ateliê, a rua lhes pertence. Ela<br />

tem o barulho de seus passos e de seus rumores (2005, p. 211). Mrs. Woolf vivia à espreitar a<br />

rua, e num momento de distração de Leonard, quando este se envolvia com o trabalho <strong>da</strong><br />

Hogart Press, Mrs. Woolf sai às escondi<strong>da</strong>s em busca de um trem <strong>que</strong> lhe levasse para<br />

Londres. Essa cena, <strong>no</strong> filme As Horas, é por demais tocante, e <strong>que</strong> será analisa<strong>da</strong> <strong>no</strong> próximo<br />

capítulo.<br />

O trabalho doméstico <strong>da</strong>s personagens de As Horas se dá de forma angustiante. Mrs.<br />

Woolf, fecha<strong>da</strong> em seu quarto, mergulha<strong>da</strong> na construção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> imaginária dos seus<br />

personagens, se aflige diante <strong>da</strong>s emprega<strong>da</strong>s: “Por <strong>que</strong> será tão difícil li<strong>da</strong>r com criados?”<br />

(CUNNINGHAM, 1998, p. 74). Faz um esforço para esconder essa sua limitação de Nelly,<br />

<strong>que</strong> tem o poder, conhece segredos e tem competência com a massa... . Tem consciência desse<br />

saber, “Existe uma ver<strong>da</strong>deira arte <strong>no</strong> comando de chás e jantares” (CUNNINGHAM, 1998,<br />

p. 72)<br />

Mrs. Woolf se intriga frente ao domínio de Nelly <strong>no</strong> <strong>espaço</strong> doméstico; a desenvoltura<br />

com <strong>que</strong> abre a massa, e como é sempre “cora<strong>da</strong>, majestosa e ela mesma”. Como pode ser tão<br />

linear <strong>no</strong>s seus sentimentos? Se pergunta, já <strong>que</strong> a própria Mrs. Woolf vive o seu tormento de<br />

ouvir vozes, não conseguir dormir, nem comer, e só de aflição são feitas suas horas. E ela<br />

reclama: “[...] como é <strong>que</strong> consegue, todos os dias e to<strong>da</strong>s as horas, ser tão exatamente a<br />

mesma?” (CUNNINGHAM, 1998, p.72)<br />

A falta de articulação <strong>que</strong> Mrs. Woolf tinha com o trabalho doméstico, servirá de<br />

laboratório para <strong>que</strong>, através do seu personagem Mrs. Dalloway transcen<strong>da</strong> à essa “limitação”,

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