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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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privaci<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> déca<strong>da</strong>s mais tardes Woolf iria pesquisar em Um teto todo seu. Pesquisa essa<br />

de <strong>que</strong> talvez tenha se apercebido já desde os seus tempos de mocinha, e <strong>que</strong> depois escreveu<br />

em Momentos de vi<strong>da</strong>, quando numa época doura<strong>da</strong> em Londres, tinha percepção desse<br />

mundo do dentro e do mundo de fora, e <strong>que</strong> às mulheres lhes cabia o mundo de dentro:<br />

Aconteceu então <strong>que</strong> Nessa (sua irmã Vanessa Bell) e eu <strong>no</strong>s unimos numa<br />

conspiração. Na<strong>que</strong>le mundo de muitos homens, indo e vindo na<strong>que</strong>la<br />

e<strong>no</strong>rme casa de inúmeros cômodos, formamos <strong>no</strong>sso núcleo particular. Penso<br />

nele como um pe<strong>que</strong><strong>no</strong> centro sensível de vi<strong>da</strong> intensa; de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

instantânea, na<strong>que</strong>la e<strong>no</strong>rme concha ecoante de Hyde Park Gate” (1985,<br />

p.166).<br />

E Perrot conclui, ressaltando <strong>que</strong>, a articulação do público e do privado, se constitui<br />

num dos problemas maiores <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des democráticas, <strong>que</strong> ela está <strong>no</strong> centro <strong>da</strong> teoria<br />

política e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, e <strong>que</strong> ain<strong>da</strong>, “o cruzamento com a diferença entre os sexos é uma<br />

maneira de penetrar em seu funcionamento e compreender seus deslocamentos” (2005, p.<br />

465)<br />

Falando­se em público, em privado, nas fronteiras de um e outro, não se pode deixar<br />

também de ver um pouco o papel <strong>da</strong> família, enquanto célula principal do <strong>espaço</strong> privado.<br />

Elizabeth Roudinesco fala <strong>que</strong> durante séculos a família ocidental teve o pai como sobera<strong>no</strong><br />

indiscutível, e <strong>que</strong> somente <strong>no</strong> século XVIII essa soberania foi desafia<strong>da</strong> pelo súbita presença<br />

do femini<strong>no</strong>. E com o advento <strong>da</strong> burguesia, a família se transformou em uma célula biológica<br />

<strong>que</strong> concedia lugar central à materni<strong>da</strong>de (ROUDINESCO, 2002, p. 11).<br />

A historiadora diz ain<strong>da</strong> <strong>que</strong>, num sentido amplo “...a família sempre foi defini<strong>da</strong><br />

como um conjunto de pessoas liga<strong>da</strong>s entre si pelo casamento e a filiação, ou ain<strong>da</strong> pela<br />

sucessão dos indivíduos descendendo uns aos outros.” E faz referência à definição de<br />

Aristóteles <strong>que</strong>, contrário a Platão, a família se definiria como uma comuni<strong>da</strong>de. Roudinesco<br />

faz referência a três períodos na evolução <strong>da</strong> família. Destaca o primeiro <strong>que</strong> define como<br />

“tradicional”, e <strong>que</strong> funciona para assegurar a transmissão de um patrimônio. Um segundo<br />

modelo de família , dita “moderna”, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>no</strong> amor romântico, através <strong>da</strong> qual se afirma<br />

<strong>no</strong>s sentimentos e desejos via casamento; e a família “contemporânea” ou “pós­moderna”, <strong>que</strong><br />

une dois indivíduos <strong>que</strong> buscam intimi<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong> sexual (2002, p. 18/19).<br />

Roudinesco cita Michelle Perrot para falar do <strong>espaço</strong> privado como um <strong>espaço</strong> oriundo<br />

de uma zona “obscura e maldita” <strong>que</strong> vai se transformar em um lugar de uma <strong>da</strong>s experiências<br />

subjetivas mais importantes de <strong>no</strong>ssa época. E ain<strong>da</strong> <strong>que</strong> a família autoritária do passado,<br />

“triunfal e melancólica” fará surgir a família mutila<strong>da</strong> de hoje, constituí<strong>da</strong> de feri<strong>da</strong>s íntimas,

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