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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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...acentua a inadequação do relógio como único mensurador do escoar <strong>da</strong>s horas e<br />

descobre como <strong>da</strong>do essencial a simultanei<strong>da</strong>de dos conteúdos <strong>da</strong> consciência,<br />

englobando presente, passado e futuro num amálgama <strong>que</strong> flui ininterruptamente.<br />

Trata­se do tempo entendido como duração, o ´tempo <strong>da</strong> mente´, <strong>que</strong> não coincide<br />

com as medi<strong>da</strong>s temporais objetivas e é simbolicamente representado como um rio<br />

for mado por uma cor rente de memórias e visões oníricas.” (grifo meu. 2003, p.<br />

21)<br />

Irônico também o título do filme nesse momento, não só reforçando o caráter de<br />

moldura do Prólogo, mas uma estória <strong>que</strong> começa com a morte <strong>da</strong> escritora/<strong>da</strong> personagem<br />

Virginia Woolf para <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> e contar uma outra estória: a de Mrs. Dalloway e <strong>da</strong>s três<br />

mulheres de As Horas – ou Um único dia na vi<strong>da</strong> de uma mulher. Estórias <strong>que</strong> fluem, talvez<br />

<strong>no</strong> ritmo e <strong>no</strong> fluir <strong>da</strong>s águas como disse Bachelard:<br />

Tal é a palavra revière (rio). É um fenôme<strong>no</strong> incomunicável em outras línguas.<br />

Pensemos foneticamente na brutali<strong>da</strong>de so<strong>no</strong>ra <strong>da</strong> palavra river .Compreenderemos<br />

<strong>que</strong> a palavra revière é a mais francesa de to<strong>da</strong>s as palavras. É uma palavra <strong>que</strong> se faz<br />

com a imagem visual <strong>da</strong> rive (margem) imóvel e <strong>que</strong>, <strong>no</strong> entanto, não cessa de fluir...”<br />

(2002, p. 195)<br />

O título <strong>da</strong> minha tese é: Que Mergulho! O <strong>espaço</strong> <strong>vertigi<strong>no</strong>so</strong> <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>feminina</strong> em As Horas. Tomei emprestado de Virginia Woolf, a famosa frase <strong>da</strong> personagem<br />

Mrs. Dalloway, quando, ao abrir a janela <strong>da</strong> sua casa, sentindo a manhã “fresca como para<br />

crianças numa praia”, ou ain<strong>da</strong> como “um beijo de uma on<strong>da</strong>”, se encanta: “Que diversão!<br />

Que <strong>mergulho</strong>!”. Para Peter Walsh, a sua paixão de juventude, <strong>no</strong> entanto, com sua<br />

objetivi<strong>da</strong>de sarcástica e seu ar absorto, lhe pergunta fazendo pouco do seu êxtase :<br />

“Meditando entre os legumes?” (WOOLF,1980, p.7)<br />

Foi esse <strong>mergulho</strong> <strong>da</strong> personagem, primeiro de prazer, para depois tomar consciência<br />

de <strong>que</strong> algo de terrível estava para acontecer – “a hora irrevogável”, os instantes, e “a<strong>que</strong>le<br />

momento de junho”, <strong>que</strong> o diretor do filme, Stephen Daldry, quis favorecer. Quis eu também,<br />

mergulhar nas idéias mais <strong>que</strong> sensíveis e atuais de Virginia Woolf, retrata<strong>da</strong>s primeiro <strong>no</strong><br />

romance de Cunnningham, e depois <strong>no</strong> filme de Daldry, embora na reali<strong>da</strong>de tenha feito o<br />

caminho inverso.<br />

Leonardo Mendes, em um artigo sobre as dificul<strong>da</strong>des de se ler Mrs. Dalloway, “O<br />

<strong>mergulho</strong>: Virginia Woolf e o leitor desamparado”, fala <strong>da</strong>s imagens marinhas, do mar<br />

enquanto metáfora <strong>da</strong> inconstância e do risco. Fala também do aspecto líquido <strong>da</strong> narrativa, e<br />

<strong>que</strong> “[...] há de se ter coragem para entrar <strong>no</strong> mar de experiências <strong>que</strong> a leitura oferece”. Daí a<br />

importância <strong>da</strong> plavra plunge (<strong>mergulho</strong>) , elemento <strong>que</strong> cristaliza essa dinâmica, e sugerindo

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