18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sitting up with the old and sick and frightened at the hour when death is supposed to<br />

do its work (1984, p.229). 24<br />

Rich ain<strong>da</strong> diz <strong>que</strong>: “In minimal light I see her, over and over, her inner clock pushing<br />

her out of bed with her heavy and maybe painful limbs, her breath breathing life into her<br />

stove, her house, her family, taking the last cold swatch of night on her body, meeting the<br />

sudden leap of the rising sun.” (1984, p.230). 25<br />

E refletindo sobre a repetição, a dureza e o sofrimento e limitação do trabalho<br />

doméstico, Rich se <strong>que</strong>stiona <strong>que</strong> do lugar <strong>que</strong> ela ocupa, de americana branca, o mundo <strong>que</strong>r<br />

faze­la acreditar <strong>que</strong> essa mulher do “todo dia ela faz tudo igual...” <strong>que</strong> tão bem também<br />

cantou Chico Buar<strong>que</strong>, não sabe pensar ou refletir sobre sua vi<strong>da</strong>:<br />

“Que suas ideais não são idéias reais como a<strong>que</strong>las de Karl Marx e Simone<br />

de Beauvoir. Que seus cálculos, sua filosofia espiritual, seus dons na área<br />

<strong>da</strong>s leis e ética, suas decisões políticas emergências diárias são meramente<br />

instintivas ou reações condiciona<strong>da</strong>s, e <strong>que</strong> somente certos tipos de gente<br />

estão capacitados a fazer teoria, como os brancos educados, <strong>que</strong> seriam<br />

capazes de formular tudo, e <strong>que</strong>, as feministas brancas de classe média seriam<br />

aptas a conhecer to<strong>da</strong>s as mulheres, e a formular o <strong>que</strong> deveria ser levado a<br />

sério. Com essas palavras Rich <strong>que</strong>stiona ferrenhamente a teoria centra<strong>da</strong> <strong>no</strong><br />

“branco/a”, tendo plena consciência de <strong>que</strong> essa crítica não é um ata<strong>que</strong><br />

gratuito e raivoso/panfletário , mas uma conscientização de <strong>que</strong> o seu<br />

sentimento não é O Centro do feminismo (1984, p.230­231).<br />

Mas, voltando para o cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong>s mulheres, e para a digressão sobre o pós­guerra<br />

versus a construção de lares, é justo nesse momento <strong>que</strong> Laura lê a exclamação <strong>da</strong><br />

personagem de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway: “Que farra! Que Mergulho!” 26 Esse<br />

embricamento de duplicação, falas intertextuais, se dê talvez para realçar mais ain<strong>da</strong> as<br />

(im)possibili<strong>da</strong>des de Laura.<br />

Mas Laura também entrega a sua indiferença ao raciocínio de <strong>que</strong>, entre a diferença<br />

entre ambição e realização, só existem duas opções: “ou você é capaz ou você não liga” e<br />

24 Através <strong>da</strong> curva <strong>da</strong> terra, existem mulheres levantando­se antes do amanhacer,na escuridão anterior ao ponto<br />

de luz, <strong>no</strong> lusco­fusco <strong>que</strong> antecede o alvorecer; existem mulheres se levantando antes dos homens e <strong>da</strong>s crianças<br />

para <strong>que</strong>brar o gelo, começar <strong>no</strong> fogão, fazer a papa, o café, o arroz, engomar as calças, entrançar os cabelos,<br />

puxar a água de beber do poço, ferver a água do chá, lavar as crianças para a escola, arrancar os legumes e<br />

começar a caminha<strong>da</strong> para o mercado, correr para pegar o ônibus para o trabalho pago. Eu não sei realmente<br />

quando a maioria <strong>da</strong>s mulheres dorme. Nas ci<strong>da</strong>des grandes, ao escurecer, as mulheres estão viajando para casa,<br />

depois de limpar escritórios durante to<strong>da</strong> a <strong>no</strong>ite, ou encerando os halls ou hospitais, ou acompanhando os mais<br />

velhos e doentes e amendontrados na hora em <strong>que</strong> a morte está para fazer seu trabalho.<br />

25 Com luz mínima eu a vejo, ca<strong>da</strong> vez mais, seu relógio interior a lhe tirar <strong>da</strong> cama com suas costelas pesa<strong>da</strong>s e<br />

dolorosas, sua respiração a inalar vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> fogão, sua casa, sua família, a pegar a última brisa <strong>da</strong> <strong>no</strong>ite <strong>no</strong> seu<br />

corpo, ao encontro dos primeiros raios de sol.<br />

26 What a lark! What a plunge! – Que frêmito! Que <strong>mergulho</strong>! Pois sempre assim lhe parecera quando, com um<br />

leve ringir de gonzos, <strong>que</strong> ain<strong>da</strong> agora ouvia, abria de súbito as vidraças e mergulhava ao ar livre... ( WOOLF,<br />

1980, p.7)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!