18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Virginia Woolf enquanto escritora, além de ícone feminista do início do século XX,<br />

foi precursora e i<strong>no</strong>vadora do romance moder<strong>no</strong>, fazendo uso do fluxo de consciência e do<br />

monólogo interior; técnicas essas <strong>que</strong> se caracterizavam por formas fragmenta<strong>da</strong>s e<br />

associativas, omissão de verbos, pro<strong>no</strong>mes, artigos e conectivos, o <strong>que</strong> na grande maioria <strong>da</strong>s<br />

vezes deixava as frases incompletas, assim como o pensamento. A crítica feminista Maggie<br />

Humm diz <strong>que</strong> até os a<strong>no</strong>s 80 Woolf era considera<strong>da</strong> uma escritora de “artful poetic prose”, e<br />

principalmente como uma artista obceca<strong>da</strong> pela “subjective consciousness” (1986, p. 123).<br />

Woolf também foi responsável por investigar incansavelmente as <strong>que</strong>stões <strong>da</strong><br />

literatura <strong>feminina</strong>: <strong>da</strong> ausência <strong>da</strong>s mulheres nas artes, a escrita <strong>feminina</strong>, uma sentença to<strong>da</strong><br />

<strong>no</strong>ssa, e principalmente a <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> valoração dos assuntos, ou seja, primazia dos assuntos<br />

masculi<strong>no</strong>s frente às experiências do mundo doméstico femini<strong>no</strong>. Woolf se debruçou<br />

amplamente sobre a <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> solidão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> doméstica, a repetição e invisibili<strong>da</strong>de do<br />

trabalho <strong>da</strong> casa, como também a experiência do <strong>espaço</strong> <strong>da</strong> sala de estar frente aos “grandes e<br />

importantes assuntos” como as guerras (na obra de Tolstoi) e os mares (na obra de<br />

Hemingway). Woolf (1979, p. 4) também enfatiza de como esses valores masculi<strong>no</strong>s <strong>que</strong><br />

direcionam tanto a vi<strong>da</strong> como a ficção, também destroem todo e qual<strong>que</strong>r vestígio de uma<br />

tradição <strong>feminina</strong>, quando diz: “The history of England is the history of the male line, <strong>no</strong>t of<br />

the female. Of our fathers we k<strong>no</strong>w always some fact, some distinction. But of our mothers,<br />

our grandmothers, our great­grandmothers, what remains”?<br />

No romance Mrs. Dallowway, o personagem de Clarissa fala <strong>que</strong> tem uma teoria, e<br />

essa teoria era para explicar um sentimento de insatisfação pelo fato de não conhecer as outras<br />

pessoas. E ela reclama dessa falta de uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas com o mundo <strong>que</strong> a cerca, o <strong>que</strong><br />

podemos intuir <strong>que</strong> V. Woolf já estava por assim fazer uma crítica ao individualismo do<br />

mundo moder<strong>no</strong>. Clarissa se sentia parte e em to<strong>da</strong> parte, e não somente “aqui, aqui, aqui”, e<br />

para conhecê­la era somente “procurar a gente <strong>que</strong> fosse o seu complemento; a gente e<br />

também os lugares”(WOOLF, 1980, p.147). E essa comunhão dela com o ser, o tempo, e o<br />

<strong>espaço</strong>, se resumia em uma consciência de ao mesmo tempo um temor à morte, mas também a<br />

uma consciência <strong>da</strong> integração dos seres huma<strong>no</strong>s à uma fusão de nível mais transcendental:<br />

O <strong>que</strong> tudo redun<strong>da</strong>va numa transcendental teoria <strong>que</strong>, combina<strong>da</strong> com o seu horror<br />

à morte, a induzira a acreditar, ou a dizer <strong>que</strong> acreditava (pois era to<strong>da</strong> ceticismo),<br />

<strong>que</strong> sendo tão momentâneas as <strong>no</strong>ssas aparições, a <strong>no</strong>ssa parte invisível, em<br />

comparação com a outra, a <strong>que</strong> se não mostrava, mas <strong>que</strong> era tão extensa, talvez esse<br />

invisível eu`sobrevivesse, se refizesse de algum modo, ligado a esta ou a<strong>que</strong>la<br />

pessoa, ou mesmo freqüentando certos lugares, após a morte. Talvez.” (WOOLF,<br />

1980, p. 147).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!