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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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família, a casa e o país (vai viver a<strong>no</strong>nimamente <strong>no</strong> Canadá). Abando<strong>no</strong> <strong>que</strong> se inscreverá em<br />

culpa quase insuportável, sendo aceita somente em oposição à morte.<br />

A casa para Bachelard também é um “ser intensamente terrestre” mas <strong>que</strong> também<br />

registra os “ apelos de um mundo aéreo, de um mundo celeste. A casa bem enraiza<strong>da</strong> gosta de<br />

ter uma ramificação sensível ao vento, um sótão <strong>que</strong> tem barulhos de folhagem”(2000, p. 67).<br />

Diferentemente <strong>da</strong> casa de L. Brown, <strong>que</strong> não se encontra enraiza<strong>da</strong> em lugar algum, nem<br />

apela para o mundo celeste, ou tem barulhos de folhagens. Ao contrário, se encontra<br />

permea<strong>da</strong> de silêncios perturbadores, dificul<strong>da</strong>des de expressão, pausas, lentidões e sustos<br />

para ca<strong>da</strong> olhar inquisidor do seu filho Richard, <strong>que</strong> apesar de tão pe<strong>que</strong><strong>no</strong>, já reconhece o<br />

estranho, a tristeza, e o vazio de uma casa perdi<strong>da</strong>, e <strong>que</strong> com certeza não tinha “o céu como<br />

terraço” (2000, p. 68).<br />

A Poética do Espaço também se refere à uma casa do passado, onde, se soubermos<br />

escutar, encontraríamos uma geometria de ecos. Richard, quando adulto e às vésperas de seu<br />

suicídio diz, <strong>que</strong> se sente como se tivesse saído do tempo, e já tivesse ido ao futuro. E<br />

descreve esse <strong>espaço</strong> temporalizado, ou o tempo espacializado, tão mais vasto, <strong>que</strong> a<strong>que</strong>le<br />

quarto claustrofóbico, <strong>que</strong> sua mãe Mrs. Brown quis, assim como Virginia Woolf, mergulhar<br />

em águas profun<strong>da</strong>s:<br />

[...] tem o clima, tem a água e a terra, tem os animais, os prédios, o passado e o<br />

futuro, tem o <strong>espaço</strong>, tem a história. Tem esse fio, ou alguma coisa presa entre os<br />

meus dentes...E é claro tem o tempo. E o lugar.... Somos tudo, ao mesmo tempo.”<br />

(grifo meu, CUNNINGHAM, 1998, p. 58­59).<br />

Bachelard <strong>no</strong>s fala <strong>da</strong>s “vozes do passado <strong>que</strong> ressoam de formas diferentes <strong>no</strong> grande<br />

aposento e <strong>no</strong> quartinho” (2000, p. 74). O personagem de Laura poderia ser vista como uma<br />

re­criação <strong>da</strong> própria Virginia Woolf, com seus medos, suas angústias e ausências; e a voz de<br />

Virginia com certeza vai ser ecoa<strong>da</strong> numa simbiose entre escritora/leitora do “somos tudo ao<br />

mesmo tempo” de <strong>que</strong> falou Richard, através do seu romance Mrs. Dalloway, e dos quartos<br />

onde o mesmo vai ser escrito e lido respectivamente. Não tem como não remeter o<br />

“quartinho/ cômodo” de Bachelard com o “quarto/teto” de Woolf, enquanto <strong>espaço</strong> de<br />

privaci<strong>da</strong>de e criação.<br />

Na Poética do Espaço de Bachelard, tem a casa, o quarto, o ninho, o canto, a concha, a<br />

imensidão, o exterior, o interior e todos os ecos do passado com fragmentos de um armário<br />

imaginário e de um devaneio poético. Mas como ele próprio diz: “...o ver<strong>da</strong>deiro armário não<br />

é um móvel cotidia<strong>no</strong>. Não se abre todos os dias. Da mesma forma a chave, de uma alma <strong>que</strong><br />

não se entrega, não está na porta” (2000, p. 92).

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