18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

viver através <strong>da</strong>s idéias dos outros; tão pouco <strong>que</strong>rem ter <strong>que</strong> escolher entre carreira e<br />

materni<strong>da</strong>de, enfim, <strong>que</strong>rem ter a sua foto estampa<strong>da</strong> em revistas de arte vestindo uma veste<br />

de Gorila. 83<br />

E de um percurso onde a predominâcia sempre foi o silêncio e os assuntos dos não<br />

ditos na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres, chegamos aos “Monólogos <strong>da</strong> Vagina”, um trabalho de pesquisa e<br />

produção, criação e interpretação de Eve Ensler <strong>no</strong> Off Broadway, sobre esse lugar secreto,<br />

onde tantos <strong>no</strong>mes são literalmente falados: caixinha de segredos, gruta, mapas, porão,<br />

caverna, minha vila, minha terra natal, meu veludo azul, meu coração pulsante, e tantos<br />

outros dentre um cenário de labirinto de pa<strong>no</strong>s, onde os monólogos acontecem (2003).<br />

A vi<strong>da</strong> individual/ pessoal de Virginia gerou a sua ficção e se mesclaram como uma<br />

“Blueberry pie”. 84 Como afirmava Freud, <strong>no</strong> seu Totem, Virginia fez dos seus momentos de<br />

vi<strong>da</strong>, juntamente com a sua ficção, seus ensaios, e textos teóricos, um caminho, um traço, por<br />

onde transitou Cunningham e Daldry através de As Horas, sendo assim também responsáveis<br />

por me transmitirem essa continui<strong>da</strong>de. Despertar <strong>que</strong> talvez tenha me suscedido, igualmente<br />

por acontecimentos íntimos e pessoais.<br />

Segundo o texto “O <strong>mergulho</strong>: Virginia Woolf e o leitor desamparado”, os romances<br />

de Virginia Woolf são narrativas sobre traumas, e por isso incapazes de oferecer conclusões<br />

ou fechamentos. Para um <strong>mergulho</strong> mais pontual, precisamos desenvolver um sentido ousado<br />

e alerta de leitura, uma espécie de afinação (tune), incomum <strong>que</strong> exige um <strong>no</strong>vo modelo de<br />

escuta (MENDES, 2005/2006, p. 113­114). Ain<strong>da</strong> nesse mesmo texto, o autor, Leonardo<br />

Mendes, fala <strong>que</strong> ler o romance (e ele se refere mais específicamente ao romance Mrs.<br />

Dalloway) de Virginia Woolf exige uma capaci<strong>da</strong>de de tolerância ao não­saber, por longos<br />

períodos, até <strong>que</strong> num momento posterior se possa alcançar (ou não) uma compreensão<br />

retrospectiva do <strong>que</strong> foi narrado. O leitor então precisa tolerar a escuridão até <strong>que</strong> seus olhos<br />

se habituem a ela ou até <strong>que</strong> uma cor<strong>da</strong> lhe seja lança<strong>da</strong>. E conclui <strong>que</strong> “O lugar do escritor<br />

modernista é o desamparo.... E <strong>que</strong> ele está <strong>no</strong> alto de uma montanha de onde possa ver ou<br />

escrever melhor, mas <strong>no</strong> chão, <strong>no</strong> meio <strong>da</strong> multidão, parcialmente cego por causa <strong>da</strong> poeira.”<br />

(2005/2006, p. 116) Essa cegueira <strong>no</strong> entanto, não se constitui em algo <strong>que</strong> impeça o escritor<br />

de continuar; continuar mesmo na ruptura, sem drama, <strong>que</strong>m sabe como uma Mrs. Dalloway<br />

num vagão de trem atravessando diferentes estações, <strong>espaço</strong>s e tempos. E com essas<br />

travessias possam ser transformadoras, e fazer <strong>da</strong>s pe<strong>que</strong>nas interrupções do quotidia<strong>no</strong>, como<br />

83 Fonte: cartão <strong>da</strong> Tate Gallery, “Guerrila Girls”, in “The advantages of being a woman artist.<br />

84 Referência ao filme My blueberry nights (Wong Kar­Wai, 2007), onde de escuta em escuta a personagem<br />

Lizzy vai modificando sua vi<strong>da</strong>, assim como a torta de blueberries <strong>que</strong> gostava de saborear <strong>no</strong> Café, em cujo<br />

balcão, ouvia e presenciava tantas outras estórias.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!