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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Bachelard, citando o poeta Jules Michelet, ain<strong>da</strong> diz: “A casa é a própria pessoa, sua<br />

forma e seu esforço mais imediato; eu diria, seu sofrimento” (2000, p.113). Esse sofrimento<br />

físico entrelaçado com paredes, cimento e argamassa; <strong>espaço</strong>s físicos e psíquicos; e tempos<br />

cro<strong>no</strong>lógicos e psicológicos estão claramente estampados nas casas de todos os personagens<br />

de As Horas. Mrs. Woolf com seu fastio, insônia e solidão do quarto, cerca<strong>da</strong> de páginas em<br />

branco, à procura de um final para sua heroína, Mrs. Dalloway. Mrs. Brown, na sua casinha<br />

middle­class, à espera do marido, sem saber o <strong>que</strong> fazer com as flores <strong>que</strong> não soube comprar,<br />

nem com a conversa desconcertante com a cunha<strong>da</strong>.<br />

Mais recentemente, e de forma me<strong>no</strong>s poética, as feministas discutem o lugar <strong>da</strong> casa,<br />

não como esse <strong>espaço</strong> do imaginário poético de <strong>que</strong> fala Bachelard, mas um lugar onde na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, a chave não está na porta. Cláudia de Lima Costa, <strong>no</strong> seu texto “O sujeito<br />

<strong>no</strong> feminismo: revisitando os debates” (2002), faz um passeio sobre a condição disciplinar do<br />

sujeito <strong>no</strong> feminismo, e onde discute também o Conceito de Lugar <strong>que</strong> está diretamente<br />

relacionado à identi<strong>da</strong>de, diferença e subjetivi<strong>da</strong>de. Esse conceito aparece para desembaraçar<br />

as articulações de e <strong>da</strong> diferença. São assim cartografias de lugares, zonas de intermezzo de<br />

enunciação. Esse conceito trabalha com categorias analíticas e políticas e possui três<br />

observações a fazer: Primeiro <strong>que</strong> o Conceito de Lugar não só é ontológico e biológico, ou<br />

seja, o ser mulher não <strong>no</strong>s transforma necessariamente em “irmãs de luta”: “Nossa localização<br />

em posições específicas “autoriza” e reprime <strong>no</strong>ssas possibili<strong>da</strong>des de experiência, de<br />

representar a<strong>que</strong>las experiências e de legitimar a<strong>que</strong>las representações” (2002, p. 86)<br />

Segundo o <strong>que</strong> será de<strong>no</strong>minado de localizações, <strong>que</strong> são pontua<strong>da</strong>s pelas diferenças e<br />

tensões múltiplas e por fronteiras <strong>que</strong> exercem a lógica binária de poder, a especifici<strong>da</strong>de do<br />

local nunca é singular, é múltipla. O lugar seria assim o efeito <strong>da</strong>s inter­relações entre o local<br />

e os outros lugares além dele (2002, p.87).<br />

Terceiro a Localização do Sujeito, como um resultado de vários processos de<br />

estranhamento; de ocupar mais de um lugar simultaneamente e cruzar constantemente as<br />

fronteiras; fronteiras enquanto um lugar de imposições e como um movimento político.<br />

Lima Costa cita bell Hooks, <strong>que</strong> define um Lar como , aparentemente, o lugar mais<br />

seguro, mas <strong>que</strong> nunca é uma experiência sem mediações. Seu significado varia não apenas<br />

como um Lugar mas como Localizações múltiplas de dispersão e fragmentação e <strong>que</strong> às vezes<br />

jamais podem ser alcançados. O Lar como fabricado para construir um senso de<br />

pertencimento e para localizar <strong>no</strong>ssas identi<strong>da</strong>des. Na sua crônica “Lar, engenharia <strong>da</strong><br />

mulher”, Clarice Lispector tenta definir subjetivamente esse <strong>espaço</strong> <strong>que</strong> se chama Lar:

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