que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
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literatura. Woolf já tinha claro uma visão do cinema enquanto uma arte <strong>que</strong> or<strong>que</strong>strava<br />
simultanei<strong>da</strong>de de dizer tudo antes mesmo de ter algo a dizer; e <strong>da</strong> própria beleza inespera<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> força de uma imagem. Uma arte do cinema <strong>que</strong> exigia do público um olho treinado, onde a<br />
representação não mais se baseava na fotografia simples <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e onde o real surgia com<br />
<strong>no</strong>vas formas de representar essa <strong>no</strong>va reali<strong>da</strong>de: “ We see life as it is when we have <strong>no</strong> part<br />
in it. As we gaze we seem to be removed from the pettiness of factual existence.” (WOOLF,<br />
1978, p.181). 58<br />
Ao analisar o personagem de Anna Karenina, Woolf reclama <strong>que</strong> a aliança é artificial,<br />
e <strong>que</strong> “All the emphasis is laid by the cinema upon her teeth, her pearls, and her velvet”<br />
(WOOLF, 1978, p. 182). 59 A densi<strong>da</strong>de de um personagem estaria <strong>no</strong>s detalhes <strong>da</strong> imagem,<br />
<strong>que</strong> iriam funcionar como metáforas para os mais variados estados d´alma.<br />
Embora Woolf tenha se <strong>no</strong>tabilizado exatamente por utilizar esses artifícios e<br />
experimentos na literatura, <strong>no</strong> início do século XX, o cinema ain<strong>da</strong> estava com suas horas de<br />
aprendizado distantes. Mas a forma <strong>que</strong> a escritora discorria sobre a sétima arte, em tempos<br />
ain<strong>da</strong> tão remotos, já mostrava a sua criativi<strong>da</strong>de artística de vanguar<strong>da</strong> e revolucionária:<br />
“People say that the savage <strong>no</strong> longer exists in us, that we are at the fagend of<br />
civilization, that everything has been said already, and that it is too late to be<br />
ambitious. But these philosophers have presumable forgotten the movies….they have<br />
never sat themselves in front of the screen and thought how far all the clothes on their<br />
backs and the carpets at their feet, <strong>no</strong> great distance separates them from those bright<br />
eyed naked men who k<strong>no</strong>cked two bars of iron together and heard in that clangour a<br />
foretaste of the music of Mozart (WOOLF, 1978, p. 180). 60<br />
Michael Cunningham se apropria dessa idéia de simultanei<strong>da</strong>de quando escreve As<br />
Horas, e as estórias acontecem concomitantemente, assim também como Daldry <strong>da</strong> beleza<br />
inespera<strong>da</strong> <strong>da</strong> força de uma imagem. Quanto aos vários estados d´alma, o filme é muito feliz<br />
por conseguir transpor para a tela, os efeitos sensoriais, aparência visual, cor e luz, e demais<br />
sig<strong>no</strong>s do sistema de recursos cinematográficos de <strong>que</strong> falava McFarllane e sua “A<strong>da</strong>ptation<br />
Proper”.<br />
58 Nós enxergamos a vi<strong>da</strong> como ela é quando não participamos dela. Quando contemplamos a vi<strong>da</strong>, parece <strong>que</strong><br />
somos removidos <strong>da</strong> insignificante existência factual<br />
59 To<strong>da</strong> a ênfase do Cinema recai sobre os seus dentes, suas pérolas e seu veludo.<br />
60 As pessoas dizem <strong>que</strong> o selvagem não mais existe em nós, <strong>que</strong> estamos <strong>no</strong> final <strong>da</strong> civilização, e de <strong>que</strong> tudo<br />
já foi dito, e <strong>que</strong> é muito tarde para sermos ambiciosos. Mas estes filósofos parecem <strong>que</strong> se es<strong>que</strong>ceram dos<br />
filmes...eles nunca sentaram na frente <strong>da</strong> tela e pensaram na distância de to<strong>da</strong>s a<strong>que</strong>las roupas nas suas costas e<br />
tapetes sob os pés, e <strong>que</strong> não é grande a distância <strong>que</strong> os separam <strong>da</strong><strong>que</strong>les homens nus de olhos brilhantes , <strong>que</strong><br />
juntos derrubaram duas barras de ferro e escutaram o tilintar de uma experiência anuncia<strong>da</strong> <strong>da</strong> música de<br />
Mozart.