que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
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Mrs. Woolf <strong>no</strong> suicídio. Para fazer a analogia com o personagem de Septimus, temos também<br />
o <strong>mergulho</strong> do poeta Richard, <strong>que</strong> também literalmente salta pela janela em direção à morte.<br />
O <strong>mergulho</strong> e seus significados associados estão intimamente entrelaçados ao papel <strong>da</strong><br />
literatura, e <strong>no</strong> caso mais especificamente de As Horas, à arte <strong>da</strong> criação, a concepção dos<br />
momentos e ao processamento de uma hora atrás de outra, através <strong>da</strong> qual o tempo<br />
cro<strong>no</strong>lógico se descobre. Em As Horas este momento estaria associado à inspiração literária<br />
(2004, p. 350352).<br />
Ambas as imagens, do <strong>mergulho</strong> e <strong>da</strong> <strong>que</strong>bra dos limites do tempo, sugerem uma<br />
passagem misteriosa sobre o <strong>que</strong> seja ordinário e se tornado barreiras intransponíveis, como o<br />
passar <strong>da</strong>s horas ou a divisão entre uma consciência isola<strong>da</strong> e outra. Hughes associa essas<br />
imagens à famosa definição de Woolf sobre a vi<strong>da</strong> como um “lumi<strong>no</strong>us halo, a semi<br />
transparent envelope that surround us from the beginning of consciousness to the end”<br />
(WOOLF, 2004, p. 351). 77<br />
No caso de Mrs. Dalloway, o <strong>mergulho</strong> representa então uma forma de apreensão e<br />
transmissão misteriosa <strong>da</strong>quilo <strong>que</strong> é mais precioso na vi<strong>da</strong>: a simultanei<strong>da</strong>de do <strong>mergulho</strong> de<br />
Clarissa em Londres, quando compra flores, associado ao <strong>mergulho</strong> em Bourton, à sua i<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> i<strong>no</strong>cência e frescor dos 18 a<strong>no</strong>s; um tempo “recollected in tranquility”, para usar um termo<br />
do poeta romântico William Wordsworthy. Hughes conclui dizendo <strong>que</strong>: “[...] individual<br />
consciousness is only a portal, an avenue into something limitless and interwoven” (2004, p.<br />
250353). 78<br />
Hughes ain<strong>da</strong> cita uma outra imagem relaciona<strong>da</strong> à idéia de <strong>mergulho</strong>, o conceito dos<br />
momentos, do tempo <strong>que</strong> “bursts open”, como se desafiasse o processo incessante de uma<br />
hora depois <strong>da</strong> outra, as quais o tempo cro<strong>no</strong>lógico desnu<strong>da</strong>. Em As Horas tais momentos são<br />
também associados à inspiração literária, à morte, ou um beijo. Ambas essas imagens, o<br />
<strong>mergulho</strong> e a explosão dos laços do tempo, sugerem uma misteriosa passagem as quais são<br />
toma<strong>da</strong>s de forma comum por barreiras insuperáveis.<br />
As imagens <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> água, de barcos infláveis, e do <strong>mergulho</strong> na vi<strong>da</strong> e na morte,<br />
funcionam como metáforas preponderantes <strong>no</strong> romance Mrs. Dalloway. Hughes acrescenta<br />
<strong>que</strong> para Woolf a imagem <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> água sugerem a vastidão de ciclos concêntricos de<br />
interconexão, <strong>que</strong> unem os personagens díspares, assim também como as profundezas abaixo<br />
<strong>da</strong> superfície dos seus pesamentos e ações e conclui dizendo <strong>que</strong> o trabalho de Cunningham<br />
77 {...} halo lumi<strong>no</strong>so, um invólucro semitransparente <strong>no</strong>s envolvendo dos primórdios <strong>da</strong> consciência até o fim<br />
78 A consciência individual é somente um portal, uma aveni<strong>da</strong> adentro de algo sem limite, mas interligado