que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
enunciação <strong>que</strong> o define, basta para fazer “suportar” a linguagem, <strong>que</strong>r dizer, para a esgotar”<br />
(1984, p. 51).<br />
Se levarmos em conta a morte do personagem de Mrs. Woolf em As Horas, na<br />
ver<strong>da</strong>de estamos tendo a morte, tanto em referência à morte <strong>da</strong> Woolf real, como também <strong>da</strong><br />
Woolf ficcionaliza<strong>da</strong> por Cunningham a partir de um <strong>da</strong>do real e repercuti<strong>da</strong> ao longo do<br />
tempo. Morre literalmente também o autor Richard e morre simbolicamente Mrs. Brown<br />
quando do seu suicídio imaginário.<br />
Para Barthes:<br />
O autor, quando se acredita nele, é sempre concebido como o passado do seu próprio<br />
livro: o livro e o autor colocamse a si próprios numa mesma linha, distribuí<strong>da</strong> como<br />
um antes e um depois: supõese <strong>que</strong> o autor alimenta o livro, <strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong> existe<br />
antes dele, pensa, sofre, vive com ele; tem com ele a mesma relação de antecedência<br />
<strong>que</strong> um pai mantém com o seu filho.” e Barthes contrapõe essa figura do autor (com<br />
letra maiúscula) ao do scriptor moder<strong>no</strong>, <strong>que</strong> nasce ao mesmo tempo <strong>que</strong> seu texto,<br />
<strong>que</strong> não está provido de um ser <strong>que</strong> precederia (1984, p.51).<br />
A ironia se dá exatamente pela identificação de Cunningham mais com o autor, já <strong>que</strong><br />
ele está ligado a um passado e tem um autor <strong>que</strong> alimenta as suas horas. Concomitantemente a<br />
morte do autor de <strong>que</strong> fala Barthes é ficcionaliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> romance e mais ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> filme, com<br />
cenas fortes e imprescindíveis para a sua construção. Essa <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> “Morte do Autor” já se<br />
constitui numa abor<strong>da</strong>gem densa; <strong>no</strong> caso de As Horas, fazse ain<strong>da</strong> mais densa, por li<strong>da</strong>r com<br />
com a morte do “eu de papel”, bem como os demais autores reais e ficcionalizados. Uma vez<br />
<strong>que</strong> se para Barthes essa morte do autor acontece para <strong>que</strong> tenha assim o surgimento do leitor,<br />
em As Horas, esse leitor também sobrevive a tudo e a todos, na figura <strong>da</strong> personagem de<br />
Laura Brown: “[...] a mulher <strong>que</strong> tentou e não conseguiu morrer, a mulher <strong>que</strong> fugiu <strong>da</strong><br />
família, está viva quando todos os outros, todos a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> lutaram para sobreviver em sua<br />
esteira, se foram. (CUNNINGHAM, 1998, p.173).<br />
Wild comenta também uma outra Morte do Autor; a morte do próprio autor<br />
Cunningham, <strong>que</strong> uma vez escolhendo um pastiche como um recurso retórico, como também<br />
imitando e transformando textos anteriores, de uma certa forma nega o poder criativo original<br />
<strong>da</strong><strong>que</strong>le AutorDeus. Wild também aponta para essa reincarnação do Autor, na forma do <strong>no</strong>vo<br />
leitor e compilador de textos anteriores (2006, p.1920). Sobre esse terceiro elemento <strong>da</strong><br />
experiência literária, e <strong>da</strong> cena <strong>que</strong> se funde e se completa com essa moldura <strong>da</strong>s águas do<br />
filme, falaremos na cena seguinte.<br />
5.2. SEQUÊNCIA 2 – NO QUARTO E A ´GEOMETRIA DOS ECOS