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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Meu tema é o instante? Meu tema de vi<strong>da</strong>. Procuro estar a par dele, divido­me<br />

milhares de vezes em tantas vezes quanto os instante <strong>que</strong> decorrem, fragmentária<br />

<strong>que</strong> sou e precários os momentos – só me comprometo com vi<strong>da</strong> <strong>que</strong> nasça com o<br />

tempo e com ele cresça: só <strong>no</strong> tempo há <strong>espaço</strong> para mim (1978, p.10).<br />

No mesmo texto de Clarice, também surge esse instante como experiência fugidia:<br />

[...] estou tentando captar a quarta dimensão do instante­já <strong>que</strong> de tão fugidio não é<br />

mais por<strong>que</strong> agora tor<strong>no</strong>u­se um <strong>no</strong>vo instante­já <strong>que</strong> também não é mais. Ca<strong>da</strong><br />

coisa tem um instante em <strong>que</strong> ela é. Quero apossar­me do é <strong>da</strong> coisa....E <strong>que</strong>ro<br />

capturar o presente <strong>que</strong> pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge,<br />

a atuali<strong>da</strong>de me escapa, a atuali<strong>da</strong>de sou eu sempre <strong>no</strong> já.(1978, p. 9­10).<br />

Interessante é <strong>que</strong> Clarice Lispector, assim como Clarissa Dalloway, também constrói<br />

a metáfora do Instante se relacionando com pneu/ ro<strong>da</strong> de um carro, numa belíssima<br />

prosa/poética <strong>que</strong> diz:<br />

Mas o instante­já é um pirilampo <strong>que</strong> acende e apaga, acende e apaga. O presente é<br />

o instante em <strong>que</strong> a ro<strong>da</strong> do automóvel em alta veloci<strong>da</strong>de toca minimamente <strong>no</strong><br />

chão. E a parte <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> <strong>que</strong> ain<strong>da</strong> não tocou, tocará num imediato <strong>que</strong> absorve o<br />

instante presente e torna­o passado. Eu, viva e tremeluzente como os instantes,<br />

acendo­me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só <strong>que</strong> aquilo <strong>que</strong> capto<br />

em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero <strong>da</strong>s<br />

palavras ocuparem mais instantes <strong>que</strong> um relance de olhar. Mais <strong>que</strong> um instante,<br />

<strong>que</strong>ro o seu fluxo (1978, p.16).<br />

Em Água Viva, Clarice Lispector constrói uma prosa <strong>que</strong> é pura poesia sobre vários<br />

assuntos, dentre eles também sobre o próximo instante, o desconhecido: “O próximo instante<br />

é feito por mim? Ou se faz sozinho? Fazemo­lo juntos com a respiração. E com uma<br />

desenvoltura de toureiro na arena” (1978, p. 9).<br />

O instante para Clarice é um instante <strong>que</strong> as palavras já não dão conta, e o <strong>que</strong><br />

interessa é a simultanei<strong>da</strong>de do tempo versus <strong>espaço</strong>, como ela mesma diz: “Sou um ser<br />

concomitante: reú<strong>no</strong> em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo <strong>que</strong> lateja <strong>no</strong><br />

ti<strong>que</strong>­ta<strong>que</strong> dos relógios” (1978, p. 22). Ao mesmo tempo, em <strong>que</strong> Clarice relaciona o instante<br />

com o sopro de vi<strong>da</strong> e as mesclas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; assim como Virginia Woolf, ela também faz<br />

referência ao instante enquanto sopro <strong>da</strong> morte:<br />

Quando eu morrer então nunca terei nascido e vivido: a morte apaga os traços<br />

de espuma do mar na praia.<br />

Agora é um instante.<br />

Já é outro agora.<br />

E outro. Meu esforço: trazer agora o futuro para já... (1978, p.30)

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