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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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homossexuais, tanto <strong>no</strong>rmativas como <strong>no</strong> caso de Mrs. Dalloway (<strong>no</strong> filme), quanto<br />

transgressora, como <strong>no</strong> texto narrativo através do personagem de sua filha, Júlia e Mary Krull.<br />

Michael Cunningham faz não somente a sua travessia <strong>no</strong> abismo <strong>da</strong> ousadia de<br />

estender a sua temática para além <strong>da</strong>s fronteiras desse sujeito como fonte individual de<br />

sentido de <strong>que</strong> fala Hutcheon, mas como um sujeito <strong>que</strong> transcende a vi<strong>da</strong> de uma única<br />

mulher, para a vi<strong>da</strong> de mulheres <strong>no</strong> plural e tudo o <strong>que</strong> essa diversi<strong>da</strong>de possa significar,<br />

abrindo­lhes assim <strong>no</strong>vas perspectivas de enfrentamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, metaforicamente<br />

personifica<strong>da</strong> pela sua Mrs. Dalloway: a <strong>que</strong> <strong>que</strong>bra os ovos, se desmantela na cozinha, chora<br />

por um passado perdido, mas compra flores para uma celebração maior <strong>que</strong> simplesmente<br />

enfeitar a casa. Flores para sua própria celebração: a de enfrentar suas horas.<br />

Cunningham faz uso <strong>da</strong> paródia, dos vestígios e através de As Horas, atualiza não<br />

somente o passado de Virginia Woolf, mas o <strong>da</strong>s mulheres em geral e de Mrs. Dalloway em<br />

particular. E faz isso utilizando mais um paradoxo: o <strong>da</strong> inversão <strong>da</strong>s certezas.<br />

Simultaneamente vai deslocar suas personagens do centro mesclando o diferente, o múltiplo e<br />

o provisório. Em As Horas, quase todos os personagens, perfazem esse sujeito de<strong>no</strong>minado<br />

por Hutcheon de “forasteiro de dentro”: Virginia Woolf não consegue nem mesmo definir o<br />

cardápio do lanche <strong>da</strong> tarde <strong>da</strong> irmã e sobrinhos, ouve vozes, e não se enquadra nem na vi<strong>da</strong><br />

conturba<strong>da</strong> de Londres, muito me<strong>no</strong>s na pacata Richmond. Laura Brown não consegue<br />

também fazer um simples bolo de aniversário, nem se adequar à uma vi<strong>da</strong> doméstica em Los<br />

Angeles; e Clarissa, tem uma união homossexual, mas vive <strong>da</strong> <strong>no</strong>stalgia <strong>da</strong> busca do amor<br />

perdido por Richard, <strong>que</strong> por sua vez também morreu sentindo­se um forasteiro.<br />

Hutcheon vai de<strong>no</strong>minar essa identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s margens de “ex­cêntrico”, o <strong>que</strong> está off­<br />

centro, onde o centro já não é totalmente válido, e <strong>que</strong> segundo ela vai estar identificado com<br />

o centro, ao qual aspira, mas <strong>que</strong> lhe é negado. Para Hutcheon (1991, p.29):<br />

[...] ´o ex­cêntrico´ (seja em termos de classe, raça, gênero, orientação sexual ou<br />

etnia) assumem uma <strong>no</strong>va importância à luz do reconhecimento implícito de <strong>que</strong> na<br />

ver<strong>da</strong>de <strong>no</strong>ssa cultura não é o monólito homogêneo (isto é, masculina, classe média,<br />

heterossexual, branca e ocidental) <strong>que</strong> podemos ter presumido. O conceito de não­<br />

identi<strong>da</strong>de aliena<strong>da</strong> (<strong>que</strong> se baseia nas oposições binárias <strong>que</strong> camuflam as<br />

hierarquias) dá lugar, conforme já disse, ao conceito de diferenças, ou seja à<br />

afirmação não <strong>da</strong> uniformi<strong>da</strong>de centraliza<strong>da</strong>, mas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de descentraliza<strong>da</strong> –<br />

mais um paradoxo pós­moder<strong>no</strong>.<br />

Nas discussões Hutcheon cita Umberto Eco <strong>que</strong> analisa a idéia de <strong>que</strong> o pós­<br />

modernismo nasce <strong>no</strong> momento em <strong>que</strong> descobrimos <strong>que</strong> o mundo não tem nenhum centro<br />

fixo, (embora séculos antes, Descartes já tivesse sido atingido pela dúvi<strong>da</strong>, referen<strong>da</strong>ndo o

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