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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Bachelard também vai analisar a grandeza do mundo e a imensidão íntima. Imensidão<br />

como categoria filosófica do devaneio, como ele mesmo descreve: “A imensidão está em nós.<br />

Está liga<strong>da</strong> a uma espécie de expansão de ser <strong>que</strong> a vi<strong>da</strong> refreia, <strong>que</strong> a prudência detém, mas<br />

<strong>que</strong> retorna na solidão. Quando estamos imóveis, estamos algures; sonhamos num mundo<br />

imenso. A imensidão é o movimento do homem imóvel” (1989, p. 190). Para Bachelard, essa<br />

imensidão faz parte do devaneio tranqüilo, <strong>que</strong> diferentemente dos personagens de<br />

Cunningham, possuem a imensidão dentro de si, mas a imensidão <strong>da</strong> angústia e <strong>da</strong> solidão<br />

existencial: “A<strong>que</strong>la era eu...Essa sou eu...mesmo assim existe essa sensação de oportuni<strong>da</strong>de<br />

perdi<strong>da</strong>.” (1998, p. 82).<br />

A imensidão para Bachelard, pode ser traduzi<strong>da</strong> pela palavra “Vasto”, <strong>que</strong> “ reúne os<br />

contrários”, marca “a infini<strong>da</strong>de do <strong>espaço</strong> íntimo” e é o “vocábulo <strong>da</strong> respiração”, <strong>que</strong><br />

segundo o filósofo, “abre o <strong>espaço</strong> ilimitado” e também “ensina­<strong>no</strong>s a respirarmos com o ar<br />

<strong>que</strong> repousa <strong>no</strong> horizonte, longe <strong>da</strong>s paredes <strong>da</strong>s prisões quiméricas <strong>que</strong> <strong>no</strong>s angustiam.”<br />

(1989, p. 196­201). Mas essa palavra também pode ter a força de um vocábulo “cuja letra abre<br />

ou fixa o pensamento <strong>da</strong> palavra” (1989, p.203).<br />

Nas personagens de As Horas , a palavra “vasto”, mais <strong>que</strong> remete à tristeza do <strong>espaço</strong><br />

interior e <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de; um <strong>espaço</strong> <strong>que</strong> não está em parte alguma, mas nas próprias mulheres<br />

<strong>da</strong> estória, frente à imensidão de um dia em suas vi<strong>da</strong>s, assim como também escreveu Rilke,<br />

citado por Bachelard <strong>que</strong> “essa solidão ilimita<strong>da</strong>,...faz de ca<strong>da</strong> dia uma vi<strong>da</strong>{...}(1989: 207). E<br />

o <strong>espaço</strong> <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de e o <strong>espaço</strong> do mundo, para Bachelard, tornam­se consonantes e<br />

“Quando a grande solidão do homem se aprofun<strong>da</strong>, as duas imensidões se tocam, se<br />

confundem.” (1989, p.207). Para Bachelard, ain<strong>da</strong>:<br />

A intimi<strong>da</strong>de do quarto torna­se a <strong>no</strong>ssa intimi<strong>da</strong>de. E, correlativamente, o <strong>espaço</strong><br />

íntimo se fez tão tranqüilo, tão simples <strong>que</strong> nele se localiza, se centraliza to<strong>da</strong> a<br />

tranqüili<strong>da</strong>de do quarto. O quarto é, em profundi<strong>da</strong>de, o <strong>no</strong>sso quarto, o quarto está<br />

em nós. Já não o vemos. Ele já não <strong>no</strong>s limita, pois estamos <strong>no</strong> próprio fundo de seu<br />

repouso, <strong>no</strong> repouso <strong>que</strong> ele <strong>no</strong>s conferiu. E todos os quartos de outrora vêm<br />

encaixar­se neste quarto. Como tudo é simples!” (1989, p.228).<br />

Essa simplici<strong>da</strong>de se dá à nível do imaginário, pois na vi<strong>da</strong> na<strong>da</strong> é simples, como<br />

profecia a personagem <strong>da</strong> professora de <strong>da</strong>nça, vivi<strong>da</strong> por Geraldine Chaplin, numa conversa<br />

com o personagem Benig<strong>no</strong> sobre a sua ama<strong>da</strong>, <strong>que</strong> se encontra inerte, presa à uma cama, <strong>no</strong><br />

filme Fale com ela, do diretor espanhol Pedro Almodóvar. Para as mulheres de As Horas,<br />

na<strong>da</strong> era simples. E as dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> aparente banali<strong>da</strong>de de suas vi<strong>da</strong>s , podem­se ver<br />

representa<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> descrição do quarto de Mrs. Woolf como um <strong>espaço</strong> de uma “luz

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