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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Brown, a mãe­suici<strong>da</strong> <strong>que</strong> não suportou o olhar carente do filho, o poeta Richard Brown, nem<br />

a frustração de um bolo na<strong>da</strong> profissional.<br />

Não tem também como não associar o <strong>no</strong>me de Laura Brown com o <strong>da</strong> conheci<strong>da</strong><br />

personagem do ensaio Mr. Bennet and Mrs. Brown, de Virginia Woolf. Nesse ensaio Woolf<br />

discorre sobre a ficção moderna e sobre uma voz <strong>que</strong> sussurra em seu ouvido dizendo: “My<br />

name is Brown. Catch me if you can” (1978, p.94). 44 Poucos escritores, segundo ela,<br />

conseguem agarrar esse fantasma, ou essa voz. A maioria tem, <strong>no</strong> entanto de se contentar com<br />

um chumaço do seu cabelo ou uma nesga do seu vestido. Através <strong>da</strong>s palavras “vestido” e o<br />

pro<strong>no</strong>me demonstrativo “dela”, podemos assumir <strong>que</strong> essa voz é sim, uma a voz <strong>feminina</strong>.<br />

V. Woolf é enfática quando diz <strong>que</strong> acredita <strong>que</strong> todos os romances começam com<br />

uma velha senhora na esquina <strong>da</strong> frente (1978, p.102). E critica Mr. Bennett dizendo <strong>que</strong> acha<br />

<strong>que</strong> o próprio nunca olhou para Mrs. Brown, a velha senhora <strong>da</strong> esquina... Essa mesma<br />

Senhora <strong>que</strong> está senta<strong>da</strong> <strong>no</strong> final de um vagão do trem, viajando não mais de uma estação<br />

para outra, mas de uma época à outra, pois Mrs. Brown é eterna; é a própria natureza humana.<br />

E durante tantas déca<strong>da</strong>s, Mrs. Brown passou quase incólume; tão pouco olha<strong>da</strong>, uma vez <strong>que</strong><br />

os escritores Edwardia<strong>no</strong>s não a vêm, pois estão preocupados em olhar para fora <strong>da</strong> janela,<br />

para as fábricas, para as utopias, mas nunca para ela, nem para a vi<strong>da</strong> , ou para a natureza<br />

humana. Conse<strong>que</strong>ntemente tais escritores desenvolveram técnicas e instrumentos para esse<br />

tipo de romances, mas <strong>que</strong> para personagens como Mrs. Brown, tais ferramentas se<br />

transformam em ruínas e morte (1978, p.110).<br />

Nesse seu ensaio, Virginia Woolf já se firmava como uma autora de vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

teoria quando defende a experimentação quando se pergunta: “Como deveria começar a<br />

descrição de uma personagem <strong>feminina</strong>?” E ela mesma responde e retruca: “Descreva isso,<br />

descreva aquilo, e grita: Pare! E jogue to<strong>da</strong>s essas ferramentas feias e incongruentes para fora<br />

<strong>da</strong> janela, mas não se pode deixar Mrs. Brown escapar por entre os dedos, e <strong>que</strong> Mrs. Brown<br />

tem <strong>que</strong> ser recupera<strong>da</strong>, expressa, antes <strong>que</strong> o trem pare e <strong>que</strong> ela possa desaparecer para<br />

sempre” (1978, p.112). 45<br />

44 “Meu <strong>no</strong>me é Brown. Pegue me se for capaz”<br />

45 Nesse ensaio, Virgnia Woolf dialoga com o escritor Ar<strong>no</strong>ld Bennett, sobre a importância <strong>da</strong> criação do<br />

personagem para a ficção, enquanto alicerce para se escrever ficção. Virgnia fala de personagem em ficção<br />

(“Character in Fiction”), contando uma estória <strong>que</strong> se passa em um trem, onde ela senta em frente de uma<br />

senhora, Mrs. Brown, e de um senhor, Mr. Smith. E sobre essas duas figuras, ela cria to<strong>da</strong> uma estória, se<br />

referindo ao tema de como <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> a uma figura fictícia, e assegurando a sua crença de <strong>que</strong> todos os romances<br />

têm a ver com personagem; e para expressar um personagem, e não para pregar doutrinas, cantarolar canções ou<br />

celebrar as glórias do Império Britânico.

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