que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
muito mais enri<strong>que</strong>ça as diferenças do <strong>que</strong> as reforce. Essa complementari<strong>da</strong>de, Woolf<br />
chamaria de “Androginia”, conceito <strong>que</strong> desde longe já antecipava às potenciais<br />
multiplici<strong>da</strong>des do ser mulher, <strong>da</strong>s escritas ditas <strong>feminina</strong>s, e dos conceitos de gêneros tão<br />
revistos e resignificados nas últimas duas déca<strong>da</strong>s. A Androginia de Woolf, definiase<br />
enquanto: “[...] a mente andrógina é ressoante e porosa; <strong>que</strong> transmite emoções sem<br />
empecilhos; <strong>que</strong> é naturalmente criativa, incandescente e indivisa” (WOOLF, 2004, p.108).<br />
Ain<strong>da</strong> complementa:<br />
[...] é preciso ser masculinamente <strong>feminina</strong> ou <strong>feminina</strong>mente masculi<strong>no</strong>. [...] a<br />
totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mente deve estar escancara<strong>da</strong>, se quisermos ter o sentimento de <strong>que</strong> o<br />
escritor está comunicando sua experiência com perfeita integri<strong>da</strong>de. É preciso haver<br />
liber<strong>da</strong>de e é preciso haver paz. Nenhuma ro<strong>da</strong> deve ranger nenhuma luz piscar. As<br />
cortinas devem estar totalmente cerra<strong>da</strong>s (WOOLF, 2004, p.114).<br />
A <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> mente andrógina não deixou dúvi<strong>da</strong> do espírito vanguardista de Woolf<br />
sobre as discussões acerca do aspecto dos papéis sexuais não fixos, mas fluidos e mutáveis e<br />
fez uma pergunta <strong>que</strong> até hoje ecoa <strong>no</strong>s estudos feministas: “What is a woman? I assure you, I<br />
do <strong>no</strong>t k<strong>no</strong>w [...] I do <strong>no</strong>t believe that anybody can k<strong>no</strong>w until she has expressed herself in all<br />
the arts and professions open to human skill” (WOOLF, 1970, p.238) 38 .<br />
Em seu artigo “A <strong>no</strong>ção de sujeito <strong>da</strong> memória em Virginia Woolf”, Paulo Sérgio<br />
Nolasco (2006, p.173) conclui: “Virginia Woolf desenvolve, simultaneamente, uma postura<br />
crítica em relação ao sujeito <strong>da</strong> escrita, tanto quanto dramatizou a escrita de si – esse sujeito <br />
autorilusório, transitório, erradio.”<br />
Enquanto Woolf contribuiu valiosamente para as discussões feministas <strong>no</strong> início do<br />
século XX, Simone de Beauvoir também em O segundo sexo, foi uma <strong>da</strong>s precursoras na<br />
crítica ao sujeito, <strong>que</strong>stionando a sua presumi<strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de e neutrali<strong>da</strong>de, e exclamava já<br />
na primeira linha de <strong>que</strong>: “Ninguém nasce mulher: tornase mulher” e complementava ain<strong>da</strong>:<br />
Nenhum desti<strong>no</strong> biológico, psíquico, econômico, define a forma <strong>que</strong> a fêmea<br />
humana assume <strong>no</strong> seio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de; é o conjunto <strong>da</strong> civilização <strong>que</strong> elabora esse<br />
produto intermediário entre o macho e o castrado <strong>que</strong> qualificam de femini<strong>no</strong>.<br />
Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro<br />
(1980,p. 9).<br />
Beauvoir já <strong>no</strong> seu livro mais antológico, O segundo sexo, afirmava a não<br />
coincidência entre a identi<strong>da</strong>de natural e a identi<strong>da</strong>de de gênero; Simone afirmaria <strong>que</strong> as<br />
38 O <strong>que</strong> é uma mulher? Eu lhe garanto <strong>que</strong> não sei […]. Nem acredito <strong>que</strong> ninguém saiba até <strong>que</strong> ela possa se<br />
expressar em to<strong>da</strong>s as artes e profissões abertas às habili<strong>da</strong>des humanas (tradução livre).