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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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oca.” Tão avó! E feliz com seus sapatos! Enfim: A mulher do livro” (CUNNINGHAM, p.<br />

16­17, 19­20).<br />

Assim como Laura Brown, Clarissa também não se identifica com o papel de dona de<br />

casa e mãe. Sente­se igualmente desloca<strong>da</strong>, “como um turista num museu”. Ao mesmo tempo<br />

em <strong>que</strong> se encontra mumifica<strong>da</strong> num papel, paradoxalmente se vê “como num trem”, em<br />

movimento. Quem sabe não seria Mrs. Dalloway também a “Senhora <strong>da</strong> esquina”, <strong>no</strong>s vagões<br />

do trem de <strong>que</strong>m falou Virgina Woolf <strong>no</strong> seu Ensaio sobre Personagem? E nesse movimento,<br />

sente <strong>que</strong> poderia “voltar para a<strong>que</strong>le outro lar”. Que lar seria esse? Não tem certeza alguma,<br />

mais parece ser um outro lugar pertencente à uma outra “essência” de Clarissa e uma “moça<br />

<strong>que</strong> se fez mulher” (CUNNINGHAM, 1998, p. 76)<br />

A <strong>que</strong>stão <strong>da</strong>s gestões de possibili<strong>da</strong>des também está sempre presente nas escolhas <strong>da</strong>s<br />

personagens de As Horas. Clarissa também vê um outro mundo lá fora. Um mundo de vi<strong>da</strong><br />

intensa, <strong>que</strong> to<strong>da</strong>s nós mulheres achamos <strong>que</strong> estamos perdendo: “Ela poderia, acha, ter<br />

entrado num outro mundo. Teria tido uma vi<strong>da</strong> tão intensa e perigosa quanto a própria<br />

literatura” Interessante essa desven<strong>da</strong>r de fronteiras entre reali<strong>da</strong>de e ficção também na<br />

personagem de Clarissa. Depois ela mesmo se in<strong>da</strong>ga: “A<strong>que</strong>la era eu. Essa sou eu”, numa<br />

toma<strong>da</strong> de sensações de oportuni<strong>da</strong>des perdi<strong>da</strong>s. (CUNNINGHAM: 82).<br />

Clarissa Vaughn, ao fazer a distinção de “a<strong>que</strong>la” com “essa”, divide o seu eu em duas<br />

partes, <strong>da</strong>ndo a impressão de <strong>que</strong> existe uma Clarissa perdi<strong>da</strong> em algum lugar do passado,<br />

uma mulher atávica, <strong>que</strong> talvez Cunningham tenha trazido à tona através <strong>da</strong> seu personagem.<br />

Sua filha Julia acredita nisso, quando comenta essa herança, <strong>no</strong> caso aqui os sentimentos e<br />

ligações com Richard: “...por alguns momentos lembra a eterna figura <strong>da</strong> censura<br />

materna;parte de uma linhagem secular de mulheres <strong>que</strong> suspiram com pesar e resignação<br />

diante <strong>da</strong>s estranhas paixões dos homens.” (CUNNINGHAM, 1998, p.126) e também<br />

representando essa fragmentação não só do sujeito contemporâneo, mas principalmente do<br />

sujeito <strong>no</strong> feminismo, quando assume <strong>que</strong> somos muitas e simultâneamente. Nessa sensação<br />

de <strong>que</strong> algo se perde na sua vi<strong>da</strong>, Clarissa diz: “...sou ridícula, sou muito me<strong>no</strong>s do <strong>que</strong><br />

poderia ter sito e gostaria <strong>que</strong> fosse de outra maneira, mas parece <strong>que</strong> não consigo deixar de<br />

ser o <strong>que</strong> sou” (CUNNINGHAM, 1998, p. 106).<br />

Das três personagens, Clarissa Vaughan, é a<strong>que</strong>la <strong>que</strong> ultrapassa os portões <strong>da</strong> casa<br />

para perambular pelas ruas em busca de flores. Flores para a festa, flores para Richard e flores<br />

para celebrar a vi<strong>da</strong>. Nesse passeio de re­visitação de Mrs. Dalloway, ela também dialoga<br />

consigo mesmo quanto ao passado, às suas escolhas amorosas (os dias em Weelfleet com um<br />

beijo fim de tarde de junho); as referências cinematográficas, Clarissa pensa <strong>que</strong> vê Meryl

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