18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Foi a casa.[...] Foram a casa e o tempo – a irreali<strong>da</strong>de estática de tudo aquilo – <strong>que</strong> aju<strong>da</strong>ram a<br />

transformar a amizade de Richard num tipo mais devorador de amor, e foram a<strong>que</strong>les mesmos<br />

elementos, na ver<strong>da</strong>de, <strong>que</strong> trouxeram Clarissa até aqui, a esta cozinha em Nova York [...]<br />

(1998, p. 81).<br />

Maud Man<strong>no</strong>ni, <strong>no</strong> seu livro Elas não sabem o <strong>que</strong> dizem – Virginia Woolf, as<br />

mulheres e a psicanálise, diz <strong>que</strong> Virginia Woolf se interessa pela ficção “para pôr em ordem<br />

trechos <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, misturando o passado ao presente.” Ela também cita Freud e o<br />

seu texto Totem e tabu (1912­1913), como um texto <strong>que</strong> se interessa pelo <strong>que</strong> se transmite<br />

através <strong>da</strong>s gerações, pela continui<strong>da</strong>de psíquica <strong>que</strong> é desperta<strong>da</strong> por certos acontecimentos<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> individual (1999, p.28). Nesse trecho citado do romance, <strong>da</strong> casa, do tempo e <strong>que</strong> se<br />

prolonga o percurso de Weelflet até à cozinha, podemos observar essa continui<strong>da</strong>de psíquica<br />

de Mrs. Dalloway, desperta<strong>da</strong> pelo acontecimento em Weelfleet, de forma mais recente, e a<br />

mixagem de tempos passado/presente <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. Continui<strong>da</strong>de psíquica também <strong>que</strong> viaja<br />

através <strong>da</strong>s gerações, pois se tomarmos a Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, ela também viveu<br />

seus momentos de memória re­visita<strong>da</strong>, durante to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, indo e vindo à sua casa de<br />

infância – Burton.<br />

Esse momento único de felici<strong>da</strong>de de <strong>que</strong> falou Clarissa Vaughn à sua filha, ao se<br />

referir ao seu passado e juventude, tem muita referência às idéias de Virginia Woolf sobre o<br />

instante; instante esse também de felici<strong>da</strong>de como diz Clarissa Dalloway à sua filha Elizabeth:<br />

“Quando a gente é feliz...tem uma reserva , de <strong>que</strong> lança mão, ao passo <strong>que</strong> ela era uma ro<strong>da</strong><br />

sem pneu (gostava de tais metáforas) sacudi<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> acidente;...”(WOOLF, 1980, p.126). E<br />

esse instante poderíamos dizer <strong>que</strong> não deixa de estar relacionado com uma fala do narrador<br />

em terceira pessoa de Mrs. Woolf, quando ela se <strong>que</strong>stiona se um único dia na vi<strong>da</strong> de uma<br />

mulher comum poderia conter o suficiente para um romance (1998, p.61). Um dia para um<br />

romance e um instante banal para a felici<strong>da</strong>de! Instante esse <strong>que</strong> Mrs. Woolf, <strong>no</strong> romance,<br />

também relaciona com a cozinha e o efêmero: “Tem esta hora, agora, na cozinha... Eis aqui<br />

Nelly, com o chá e o gengibre, e eis aqui, para sempre Virginia, inexplicavelmente feliz, mais<br />

do <strong>que</strong> feliz, viva, senta<strong>da</strong> com Vanessa na cozinha, num dia comum de primavera [...]”<br />

(1998, p.124­125).<br />

E desse instante, Mrs. Woolf reflete sobre o <strong>espaço</strong> <strong>que</strong> um ser ocupa na vi<strong>da</strong>, o<br />

mundo, e a morte. Instante esse enquanto experiência do desconhecido, como falou tão bem<br />

uma outra voz narrativa, dessa vez por uma outra Clarice, a Lispector, em seu romance Água<br />

Viva:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!