18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

complicado <strong>que</strong> ver; é uma arte complexa e difícil, e discorre do ideal de banirmos as visões<br />

preconcebi<strong>da</strong>s quando iniciamos um livro: “Não dê ordens a seu autor; tente aproximar­se<br />

dele. Seja seu colaborador e cúmplice... se você abre sua cabeça o máximo possível, então os<br />

sinais e as alusões de sutileza quase imperceptível, desde os subterfúgios <strong>da</strong>s primeiras frases,<br />

irão colocá­lo diante de um ser huma<strong>no</strong> diferente de qual<strong>que</strong> outro. Mergulhe nisso...” (2007,<br />

p. 124). E complementa: “Deve­se ser capaz não apenas de grandes delicadezas de percepção,<br />

mas de grandes audácias <strong>da</strong> imaginação [...]” (2007, p. 126).<br />

E Woolf conclui, considerando também as limitações de Mrs. Brown <strong>que</strong> possui o<br />

obscuro, a fragmentação e o próprio fracasso, como características to<strong>da</strong>s suas e apela para <strong>que</strong><br />

nunca a abandonemos.<br />

Tendo um <strong>no</strong>me de um dos ensaios de Woolf para representar a ficção, a Mrs. Brown<br />

de As Horas é a personagem <strong>que</strong> mais se aproxima <strong>da</strong> escritora inglesa, como também a mais<br />

próxima <strong>da</strong> sua literatura.<br />

O capítulo <strong>que</strong> apresenta Mrs. Brown, se inicia com uma passagem do livro Mrs.<br />

Dalloway: “Mrs. Dalloway disse <strong>que</strong> compraria ela mesma as flores.”(CUNNINGHAM,<br />

1998, p.35). Frase essa <strong>que</strong> vai funcionar como ligação, até mesmo um eco, entre as três<br />

personagens, uma vez <strong>que</strong> as outras duas também se iniciam com as mesmas referências. No<br />

caso de Mrs. Dalloway: “Ain<strong>da</strong> é preciso comprar as flores” (CUNNINGHAM, 19998, p.15),<br />

E Mrs. Woolf: “Mrs. Dalloway disse alguma coisa (o quê?) e comprou ela mesma as flores.”<br />

(CUNNINGHAM, 1998, p.30). Mais adiante, quando falarmos do filme, veremos como essa<br />

mesma escolha, tanto pela frase, como pelo gesto de comprar flores, igualmente irá costurar<br />

as estórias <strong>da</strong>s personagens.<br />

Todos nós sabemos a força <strong>que</strong> tem um livro nas <strong>no</strong>ssas vi<strong>da</strong>s. Ou é um livro, um<br />

autor, uma estória, <strong>que</strong> em determina<strong>da</strong>s circunstâncias assumem papel determinante <strong>no</strong><br />

percurso <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa existência, escolhas e perspectivas. Podemos conferir o filme Balzac e a<br />

costureirinha chinesa (DAÍ SIJIE, 2002), <strong>que</strong> <strong>no</strong>s emociona ao constatar o poder de uma boa<br />

estória 46 .<br />

46 Nesse filme, os personagens assistem a filmes para depois re­contar a estória, até mesmo subverter os enredos<br />

para uma comuni<strong>da</strong>de perdi<strong>da</strong> nas montanhas de uma China comunista e repressora. A revolução cultural já se<br />

instalava, mas não na<strong>que</strong>le povoado, onde “camponês revolucionário jamais será corrompido por um frango<br />

burguês...”. E na arte de transpor emoções através <strong>da</strong> ficção, os dois estu<strong>da</strong>ntes <strong>que</strong> estavam a se “re­educar” nas<br />

montanhas Fênix, faziam uma neve de uma casca de arroz, mais bonita do <strong>que</strong> a ver<strong>da</strong>deira, se utilizando <strong>da</strong><br />

magia do re­contar o mundo e fazer as pessoas se moverem do chão. A costureirinha, depois de ler Balzac, fala<br />

<strong>que</strong> o mundo havia mu<strong>da</strong>do: o céu, o som, até o cheiro do porco, resumindo o seu sentimento: “Sinto­me como<br />

outr a pessoa e mais como eu mesma”. Bem <strong>que</strong> seu avô já havia lhe avisado: “um livr o pode afetar uma<br />

vi<strong>da</strong> inteir a.” ( grifo meu, 2002)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!