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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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Desde o seu primeiro registro em um cader<strong>no</strong> de <strong>no</strong>tas, transformado <strong>no</strong> livro A casa<br />

de Carlyle, Virginia Woolf diz se encontrar onde não <strong>que</strong>ria estar (2003, p.17). Um<br />

sentimento de não lugar, de não pertencimento e inadequação <strong>que</strong> irá perpassar também nas<br />

outras personagens de As Horas, e <strong>que</strong> vai também ser uma preocupação central <strong>da</strong> sua<br />

escrita; uma idéia de não­pertencimento e alienação. Essa idéia de não pertencimento <strong>que</strong> <strong>no</strong>s<br />

persegue por estar sempre achando <strong>que</strong> existe uma outra vi<strong>da</strong> mais interessante <strong>que</strong> não a<br />

<strong>no</strong>ssa; essa eterna ilusão de incompletude <strong>que</strong> deságua na angústia de estar fora do lugar e <strong>que</strong><br />

a condição do SE, <strong>no</strong>s levaria para um outro lugar sempre mais adequado. Na literatura e<br />

também em outras artes o problema do “SE” foi sempre recorrente. O poeta Robert Frost <strong>no</strong><br />

seu poema “The road <strong>no</strong>t taken” é uma boa referência para ilustrar a sensação constante do<br />

elo perdido com uma vi<strong>da</strong> <strong>que</strong> não a <strong>no</strong>ssa. Conferir também o filme Sliding Doors, (De caso<br />

com o acaso ­ HOWITT, 1997), só para citar alguns exemplos.<br />

No seu livro Momentos de vi<strong>da</strong>, Virginia Woolf fala de <strong>que</strong>, desde muito cedo,<br />

aprendeu a viver com dois mundos, o mundo “real” e o seu mundo todo seu; o seu mundo<br />

imaginário, à parte: “É bem ver<strong>da</strong>de <strong>que</strong> eu cercava a<strong>que</strong>le mundo com um outro, criado pelo<br />

meu próprio temperamento; é bem ver<strong>da</strong>de <strong>que</strong>, desde o começo, eu tinha muitas aventuras<br />

fora <strong>da</strong><strong>que</strong>le mundo; e muitas vezes ia longe dele; e ocultava dele muita coisa...” (1986, p.<br />

98).<br />

Nos seus Momentos de vi<strong>da</strong>, Woolf fala dentre outras coisas, <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, sua família,<br />

a relação complexa com o pai, a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> mãe, os irmãos, as festas, o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

Inglesa do começo do século XX, dos vestidos, <strong>da</strong>s tardes, de Londres, do instante, do<br />

inefável, e <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa ilusão por sonhar com “The road <strong>no</strong>t taken”. E ela diz: Muitas vezes<br />

temos de <strong>no</strong>s contentar com sementes; os germes do <strong>que</strong> poderia ter sido, se a <strong>no</strong>ssa vi<strong>da</strong><br />

tivesse sido diferente. Classifico a ´pesca´ juntamente com outras vistas momentâneas: como<br />

as espiadelas <strong>que</strong> dou dentro dos porões, quando caminho pelas ruas de Londres” (1986,<br />

p.156). Woolf ain<strong>da</strong> relata um tempo em <strong>que</strong> morou <strong>no</strong>s quarto de fundos em Hyde Park, e<br />

<strong>que</strong> este quarto explicava muita coisa. E explicava as muitas, ou pelo me<strong>no</strong>s duas vi<strong>da</strong>s, <strong>que</strong><br />

ela assim definia:<br />

Mas pensava; sentia; vivia; as duas vi<strong>da</strong>s <strong>que</strong> as duas metades simbolizavam, com a<br />

intensi<strong>da</strong>de, a intensi<strong>da</strong>de abafa<strong>da</strong>, <strong>que</strong> uma borboleta ou mariposa sente quando,<br />

com suas antenas e pernas trêmulas e pegajosas, rompe com esforço a crisáli<strong>da</strong>, sai e<br />

fica tremendo por algum tempo ao lado do casulo rompido; as asas ain<strong>da</strong> dobra<strong>da</strong>s;<br />

os olhos ofuscados; incapaz de voar (1986, p. 143).

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