18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

achar isso também, e ela acha. Quando está sozinha, concor<strong>da</strong> com Richard e acha sua vi<strong>da</strong><br />

banal, mas quando estava com ele sentia como se estivesse vivendo. Júlia se ressente, e<br />

Clarissa tenta justificar dizendo <strong>que</strong> a banali<strong>da</strong>de não é com ela, mas com todo o resto. Um<br />

problema secular esse de as mulheres estarem sempre atribuindo a um outro, à significação<br />

<strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s.<br />

Clarissa e Júlia deitam na cama simetricamente lado a lado, num momento de<br />

intimi<strong>da</strong>de entre mãe e filha; e ela lhe conta de quando foi mais feliz; de <strong>que</strong> já foi jovem,<br />

quando tinha to<strong>da</strong> uma sensação de possibili<strong>da</strong>des, e <strong>que</strong> se enga<strong>no</strong>u ao pensar <strong>que</strong> ali estava<br />

o começo do <strong>que</strong> ela chamou de Felici<strong>da</strong>de, pois ali, era a própria Felici<strong>da</strong>de – era O<br />

momento! Clarissa Vaughn toma consciência do instante irrevogável <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de de uma<br />

manhã de verão na praia, assim como a Clarissa Dalloway de Virginia Woolf também teve<br />

essa mesma sensação, numa repetição anterior, <strong>no</strong>vamente numa duplicação de temas, falas, e<br />

sentimentos: “Assim , num dia de verão, as on<strong>da</strong>s se juntam, balançam e tomam; e o mundo<br />

inteiro parece dizer: ´Isso é tudo´, ca<strong>da</strong> vez mais forte, até <strong>que</strong> o coração, <strong>no</strong> corpo estendido<br />

sob o sol <strong>da</strong> praia, também diz: ´Isso é tudo´” (WOOLF, 1980, p.41).<br />

No romance As Horas, essa sensação do instante aparece na fala de Mrs. Dalloway:<br />

“Você tenta prender o momento, bem aqui na cozinha, ao lado <strong>da</strong>s flores” (1998, p. 80). Logo<br />

em segui<strong>da</strong> Clarissa também fala <strong>da</strong> relação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de de uma pessoa liga<strong>da</strong> ao <strong>espaço</strong><br />

geográfico <strong>da</strong> cozinha:<br />

O <strong>que</strong> você é, mais do <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r outra coisa, é uma pessoa viva, bem aqui <strong>no</strong><br />

meio <strong>da</strong> cozinha, assim como Meryl Streep e Vanessa Redgrave estão vivas em<br />

alguma parte, assim como o tráfego zumbe na Sixth Avenue e as lâminas pratea<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> tesoura cortam talos verdes, suculentos e escuros” (1998, p. 80).<br />

Nessa citação, Cunningham homenageia as atrizes <strong>que</strong> fazem as personagens de Mrs.<br />

Dalloway em As Horas (Meryl Streep) e <strong>no</strong> filme Mrs. Dalloway (Vanessa Redgrave),<br />

transgredindo assim as <strong>no</strong>ções de tempo e <strong>espaço</strong>, real e ficcional e continui<strong>da</strong>de e<br />

descontinui<strong>da</strong>de. Ao mesmo tempo, Cunningham ao falar dessa relativização tempo/<strong>espaço</strong>,<br />

também relaciona esse estar viva com as coisas banais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> como o trânsito e os talos<br />

verdes sendo cortados de um trabalho doméstico; tudo inter­ligado na vi<strong>da</strong> cotidiana.<br />

Em uma outra fala do romance, Clarissa acusa a casa <strong>da</strong><strong>que</strong>le verão dos seus dezoito<br />

a<strong>no</strong>s, a responsável pelo estado de “luxúria e i<strong>no</strong>cência”:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!