18.04.2013 Views

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

na estação correndo e pedindo licença aos transeuntes. Aflito ouve um apito do trem. Aparece<br />

a plataforma 1 <strong>que</strong> tem o aviso do desti<strong>no</strong> para Londres. A câmera mu<strong>da</strong> o seu foco para o<br />

final <strong>da</strong> estação a céu aberto, e lá <strong>no</strong> final do vão, senta<strong>da</strong> num banco solitário, está Mrs.<br />

Woolf à espera. Leonard pára incrédulo com o <strong>que</strong> vê, e também para tomar fôlego. Com as<br />

mãos <strong>no</strong>s quadris é como se dissesse: Achei! Mrs. Woolf, meio sem graça, como <strong>que</strong>m é pega<br />

num flagrante, diz: “Que prazer inesperado!”. Ele, com um outro humor e com um ar<br />

autoritário e paternalista, pergunta­lhe o <strong>que</strong> está fazendo. Ela explica <strong>que</strong> saiu de mansinho<br />

para não perturbá­lo e ele raivoso com um tom acusatório, como se ela fosse uma criança<br />

peralta, diz <strong>que</strong> ela lhe perturba quando desaparece. E ela protesta: “eu não desapareço!”<br />

Nesse momento temos as duas figuras em paralelos na tela, depois os rostos em close, com<br />

suas expressões mais fortes: ele indignado com sua audácia, ela desconfia<strong>da</strong>, mas assertiva<br />

com o <strong>que</strong> fazia.<br />

Leonard com uma postura inquisidora e o corpo para a frente (como um “sargento, um<br />

bedel, e a personificação <strong>da</strong> censura”), a <strong>que</strong>stiona pelo passeio. Já <strong>que</strong> é essa justificativa<br />

<strong>que</strong> lhe dá. Vamos embora para casa, lhe diz: “Nelly fez o jantar, e hoje tivemos um dia<br />

difícil. E temos obrigação de comer o jantar.” Ele a olha de forma interrogativa e ela se sente<br />

espia<strong>da</strong> e tolhi<strong>da</strong> e explode: “Não existe tal obrigação!” Leonard então lhe fala <strong>da</strong> sua<br />

obrigação com a insani<strong>da</strong>de. Já agüentei essa proteção, esta prisão, onde sou trata<strong>da</strong> por<br />

médicos <strong>que</strong> dizem o <strong>que</strong> é melhor para mim. Leonard lhe fala de como deve ser difícil para<br />

uma mulher de talento não poder julgar o <strong>que</strong> é melhor para si. Mrs. Woolf <strong>que</strong>stiona <strong>que</strong>m<br />

pode julgar? Mr. Woolf lhe responde <strong>que</strong> ela tem um histórico de confinamento, de<br />

melancolia, alucinação auditiva, per<strong>da</strong> de memória, <strong>da</strong>í a i<strong>da</strong> para Richmond. Mrs. Woolf está<br />

de costas, a estação se encontra vazia, pois os trens já partiram ou ain<strong>da</strong> não chegaram. É uma<br />

estação de subúrbio e os passageiros só aparecem na hora <strong>da</strong> parti<strong>da</strong>; Mrs. Woolf chegou lá,<br />

sem premeditar, e sem saber os horários. Finalmente, Mr. Woolf também explode,<br />

relembrando <strong>que</strong> ela tentou se matar duas vezes. Mrs. Woolf então se vira, diante <strong>da</strong> acusação.<br />

Ele lhe fala <strong>da</strong> Editora (A Hoggart Press, <strong>que</strong> apesar de Virginia desempenhar uma função<br />

crucial como editora, esse trabalho também mantinha uma névoa sobre às suas limitações<br />

sobre esse mesmo trabalho), para <strong>que</strong> “ela não falasse demais, não escrevesse demais, não<br />

sentisse demais e não viajasse impetuosamente a Londres”. Ela, ironicamente, <strong>que</strong>stiona se<br />

fez isso como um bor<strong>da</strong>do e ele lhe confessa, aos gritos, <strong>que</strong> fez tudo por ela e por amor. E<br />

<strong>que</strong>, se não a conhecesse, acharia <strong>que</strong> ela estaria sendo ingrata. O significado dessa palavra<br />

tocou fundo em Mrs. Woolf e ela então faz uma <strong>da</strong>s falas mais comoventes do filme. Diz­lhe<br />

<strong>que</strong> sua vi<strong>da</strong> foi rouba<strong>da</strong> e <strong>que</strong> vive uma vi<strong>da</strong> <strong>que</strong> não deseja, e pergunta impotente como tudo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!