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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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particular, <strong>no</strong> entanto, sua personagem se vê, nervosa, irrealiza<strong>da</strong>, hesitante, amedronta<strong>da</strong><br />

diante <strong>da</strong>s triviali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não­profissional:<br />

Odeio entrar em lojas, falar com balconistas; basta uma vendedora responder <strong>que</strong><br />

não tem o <strong>que</strong> eu procuro, em um tom levemente desagradável, e eu bato em<br />

retira<strong>da</strong>[...]até parece <strong>que</strong> não cresci [...]”; a incerteza <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> deixa­a confusa, como<br />

quanto hesita muito tempo em comprar um par de sapatos e depois lamenta a<br />

escolha” (2008, p. 420).<br />

Curioso Zeldin comentar <strong>que</strong> essa personagem <strong>no</strong> mundo público sente como se não<br />

estivesse jogando para valer, <strong>que</strong> é somente uma expectadora e estivesse observando o mundo<br />

<strong>da</strong> medicina como num filme. O mais irônico é <strong>que</strong> seu marido diz <strong>que</strong> talvez a mulher use o<br />

trabalho como paliativo de suas ansie<strong>da</strong>des íntimas. Essa sua personagem quando menina<br />

fingia brincar e escrevia poesia, mas foi ser cirurgiã, onde as emoções não entram e, <strong>no</strong><br />

entanto, dizia ela: “[...] são as emoções <strong>que</strong> <strong>no</strong>s impedem de morrer de tédio”, e por isso, nas<br />

horas vagas, ela escreve histórias curtas, com o final cheio de fascínio do inesperado.<br />

Ela também é pintora e pinta retratos com parte dos corpos fora <strong>da</strong> tela. Para ela,<br />

“somente na arte a máscara de frieza se dissolve [...] (2008, p. 422). Da forma como o mundo<br />

está organizado, o trabalho raramente oferece às pessoas uma oportuni<strong>da</strong>de de florescer. E ela<br />

precisa de dias com 48 horas, para <strong>que</strong> sua fome e sede possam ser sacia<strong>da</strong>s, afinal “a emoção<br />

é insaciável”. Virginia Woolf já havia dito também <strong>que</strong> a criativi<strong>da</strong>de só poderia vir à tona,<br />

em estado de ócio e sonho (WOOLF, 2004, p. 38).<br />

Zeldin, com sua estória <strong>da</strong> cirurgiã anônima, <strong>no</strong>s mostra como não podemos ser livres<br />

se não temos <strong>espaço</strong>, e de como <strong>no</strong>sso desafio de hoje é a organização do tempo. Nós, as<br />

supermulheres cirurgiãs ou não, <strong>que</strong> mergulhamos na determinação de <strong>no</strong>s fazermos<br />

admira<strong>da</strong>s em todos os <strong>no</strong>ssos papéis, recusando­<strong>no</strong>s a escolher entre sermos “úteis, bonitas,<br />

inteligentes, diverti<strong>da</strong>s, trabalhadoras firmes, duras <strong>no</strong>s negócios e sempre refina<strong>da</strong>s.” E<br />

conclui: “As barras <strong>da</strong> prisão mu<strong>da</strong>ram. No passado, acorrenta<strong>da</strong>s aos homens [...] nós<br />

lutamos por causas justas. Hoje, nós mesmas <strong>no</strong>s amarramos [...]” (2008, p. 424).<br />

Mary Del Priori, em sua crônica “Se arrependimento matasse”, fala <strong>que</strong> não há o <strong>que</strong><br />

comemorar por ocasião do dia 8 de março, dia internacional <strong>da</strong> mulher. Já houve tempos<br />

áureos quando a palavra feminista arrepiava, pois remetia às mulheres <strong>que</strong> pensavam, tinham<br />

projetos, desejos. E <strong>que</strong> depois de termos adquirido duas liber<strong>da</strong>des: a financeira e a sexual,<br />

ela se pergunta: “ganhamos a guerra?” (2008, p. 2). Ela também responde <strong>que</strong> não. Hoje<br />

temos solidão, depressão e isolamento, tudo regado a botox, à supervalorização <strong>da</strong><br />

sexuali<strong>da</strong>de, e <strong>que</strong> acabamos rebaixa<strong>da</strong>s “<strong>da</strong>nçando o ´créu`”.

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